terça-feira, agosto 30, 2005

CABRA-CEGA



Toni Venturi, diretor de O VELHO - A HISTÓRIA DE LUIZ CARLOS PRESTES (1997) e LATITUDE ZERO (2000), retorna à temática política com CABRA-CEGA (2004), trabalhando novamente com a atriz de seu segundo filme, Debora Duboc. O filme conta a história de um militante que, depois de ferido num combate com a polícia, se esconde no apartamento de um simpatizante do movimento comunista. Enquanto se recupera do ferimento, e devido ao fato de não poder sair de casa, ele se torna cada vez mais agressivo e paranóico.

O filme foi feito a partir de entrevistas com onze pessoas que viveram momentos "barra-pesada" durante a ditadura militar. José Dirceu, inclusive, foi um desses onze entrevistados para a confecção do roteiro. A intenção era que o filme ficasse bem próximo do que realmente acontecia. Tanto os personagens Tiago (Leonardo Medeiros) e Mateus (Jonas Bloch) foram inspirados em pessoas de verdade. A pesquisa para o filme também gerou o documentário NO OLHO DO FURACÃO.

Como CABRA-CEGA foi lançado em São Paulo na mesma época de QUASE DOIS IRMÃOS, de Lúcia Murat, diretora também engajada em filmes políticos - e ela própria vítima das ações violentas da ditadura -, a comparação entre os dois filmes foi inevitável. Mas o filme se assemelha mais ao italiano BOM DIA, NOITE, de Marco Bellocchio, tanto pela abordagem crítica da militância comunista, mostrando a que ponto pode chegar a utopia com exagero, quanto pela tensão de se estar preso num apartamento, de estar acuado e vivendo na clandestinidade. Naturalmente, CABRA-CEGA não tem o brilhantismo da obra de Bellocchio, mas não deixa de ser um bom filme.

A trilha sonora ficou a cargo de Fernanda Porto e traz algumas versões novas de clássicos da MPB de Chico Buarque ("Construção", "Roda Viva") e Paulinho da Viola ("Sinal Fechado"). Eu não gostei muito, mas vai ver que é porque eu não me identifico com essa turma emepebista; sou de outra geração, mais contaminado pela (contra)cultura estrangeira. Mas mesmo a crítica musical não foi muito generosa (pra usar de eufemismo) com o disco de Fernanda Porto.

Quanto ao filme, não gostei da cena em que Debora Duboc coloca uma venda nos olhos de Leonardo Medeiros. Parecia querer justificar o título do filme. Mas gostei do final, com os três colegas, de armas em punho, adentrando um clarão. Lembrei de Jardel Filho no final de TERRA EM TRANSE, do Glauber Rocha.

O roteiro de CABRA-CEGA, comentado pelo diretor, foi lançado em livro pela Coleção Aplauso da Imprensa Oficial pelo preço camarada de 9 pilas.

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