quarta-feira, junho 29, 2005

CORTINA RASGADA (Torn Curtain)

 

Eu não planejava rever CORTINA RASGADA (1966) dentro dessa minha peregrinação pela obra de Alfred Hitchcock. Não é dos meus Hitchcocks preferidos e não gostei da vez que o assisti na Globo. Mas depois que comecei a ler a entrevista do diretor no livro do Bogdanovich (Afinal, Quem Faz os Filmes), percebi que não me lembrava mais de nada do filme. Aí tive que fazer esse "árduo sacrifício" de revê-lo. Foi até bom, porque eu retardo um pouco mais o final dessa tarefa tão gostosa que é ler as entrevistas e ver os filmes do mestre em seqüência. Pena que já estou perto do fim, só faltando mais três filmes para terminar. 

Rever CORTINA RASGADA não fez com que eu mudasse de idéia sobre achar esse um dos mais fracos da carreira de Hitch, mas acabei curtindo muito mais. Afinal, rever em DVD, com qualidade de imagem e som de primeira, é outra coisa. Sem falar que esses DVDs da Universal vêm com aqueles documentários maravilhosos de Laurent Bouzereau. O que eu achei estranho no documentário constante nesse DVD foi o fato de não haver depoimentos de ninguém da produção. Poderiam ter chamado o Paul Newman ou a Julie Andrews, já que os dois ainda estão vivos. Mas parece que o ator pode não ter gostado do que o diretor falou sobre sua performance no filme. Hitchcock odiava trabalhar com os atores que utilizavam os métodos do Actor's Studio. Ele já tinha reclamado de quando trabalhou com Montgomery Clift, em A TORTURA DO SILÊNCIO (1952), e o ator ficava procurando motivações para fazer determinada cena, em vez de simplesmente obedecer com certa neutralidade as ordens do diretor. Com Paul Newman foi mais ou menos do mesmo jeito. 

Hitchcock também não considerava Julie Andrews adequada para os seus filmes. Na época, a atriz estava no auge. Tinha feito MARY POPPINS (1964) e A NOVIÇA REBELDE (1965). Mas aí é que estava o problema. Os críticos, na época que CORTINA RASGADA foi lançado nos cinemas, diziam que a sensação que tinham era que Julie Andrews ia parar de falar e cantar a qualquer momento. O que eu acho até uma maldade, já que ela está muito bem no filme, ainda que falte o sex appeal de uma Grace Kelly ou uma Kim Novak. 

CORTINA RASGADA tem um tom totalmente diferente do último filme de espionagem de Hitchcock, INTRIGA INTERNACIONAL (1959). O que levou Hitchcock a mudar de tom e preferir fazer um filme mais realista e sério foi o fato de que aquilo que ele criara para fugir dos clichês, como a cena do avião perseguindo Cary Grant no deserto, acabou virando clichê, graças aos filmes de James Bond, que apresentavam cenas ainda mais fantasiosas. Por causa disso, CORTINA RASGADA carece da graça e do humor dos outros thrillers de espionagem hitchcockianos. 

Há uma falta de cenas memoráveis e empolgantes. A mais famosa é a do assassinato de Gromek, mas a minha preferida é a cena do ônibus. Pra mim, é nessa cena que se instala melhor o suspense em todo o filme, com um belíssimo controle do tempo. Boa também a cena dos policiais procurando por Newman e Andrews dentro do teatro, mas a solução do filme acabou parece semelhante à cena do leilão de INTRIGA INTERNACIONAL. 

No DVD, além do documentário de Bouzereau, com mais de meia hora de duração, em que o documentarista, com a falta dos depoimentos da equipe do filme, tem tempo suficiente para dissecar o filme, há também, entre os extras, a opção de ver as cenas filmadas com a trilha sonora de Bernard Herrmann. O mais famoso dos coloboradores de Hitchcock tinha sido demitido no início das filmagens e foi substituído por John Addison. 

Lendo a entrevista do livro Hitchcock/Truffaut - Entrevistas, vi que Hitchcock prometera doar uma cena cortada do filme a François Truffaut. Ele agradece e diz que doaria para Henri Langlois guardar na Cinemateca Francesa. A tal cena é uma em que Newman se encontra com o irmão de Gromek. Ela acabou sendo cortada tanto por causa do "método" de trabalho do ator, quanto por tornar o personagem quase um vilão. Bem que essa cena podia estar também nos extras do DVD. 

Próximo filme do Hitch a pintar por aqui: TOPÁZIO (1969). Esse é totalmente inédito pra mim.

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