quarta-feira, maio 04, 2005

KINSEY - VAMOS FALAR DE SEXO (Kinsey)

 

Quando eu era pequeno, lembro que um amigo meu de família protestante dizia que na casa dele, sempre que sua família se sentava para assistir a novela e aparecia uma cena de beijo, o pai dele desligava imediatamente a tv por alguns minutos para evitar que as crianças da sala tivessem algum tipo de estímulo sexual. Lembra um pouco a censura do padre na sala de projeção de CINEMA PARADISO. Talvez seja um exagero isso de desligar a tv em cena de beijo, mas os anos eram outros e ver um beijo não deixa de ser estimulante. Eu mesmo me peguei diante de uma postura até moralista quando nos anos 90 quase todas as meninas do Brasil estavam dançando "a dança da garrafa" no meio da rua e a televisão era um festival de bundas em close em plena luz do dia. Sempre me incomodou essa coisa do sexo exposto ao público, por mais natural que seja. Eu curto pornografia, mas quanto mais discrição melhor. Sim, eu sei. Posso estar sendo bem moralista. 

Logo, não achei estranha a repercussão e a polêmica que o Dr. Alfred Kinsey enfrentou quando publicou seus livros "Sexual Behavior in the Human Male" e, em seguida, "Sexual Behavior in the Human Female". Foi mesmo um baque para a sociedade americana descobrir que o país estava cheio de homossexuais e que o incesto era uma prática mais comum do que se imaginava. Os EUA são uma nação colonizada pelos puritanos e apesar da indústria pornográfica de hoje em dia e da fama que o país tem de liberal, a quantidade de gente conservadora que existe por lá ainda é enorme, é a maioria até. Basta lembrar do escândalo de Bill Clinton e a história do charuto, Monica Chupinski, etc. Tanto que eles preferiram reeleger o Bush, um "exemplo de cristão", a se arriscar com outro presidente liberal. 

KINSEY (2004), de Bill Condon (sobrenome bem sugestivo), mostra um pouco dessa relação da sociedade tradicional americana com o sexo. Uma das cenas mais interessantes é uma que mostra John Lithgow, que interpreta o pai de Kinsey (Liam Neeson), falando sobre as facilidades que a modernidade estava trazendo para que os jovens caíssem na tentação. Entre essas facilidades, ele cita o automóvel, os motéis de beira de estrada e até o zíper, que segundo ele, garante acesso rápido ao sexo. Numa outra cena, um professor recomenda aos alunos a abstinência sexual para que não contraiam doenças venéreas. Inclusive, ele recomenda aos rapazes que, quando sentirem tesão, mergulhem seus testículos em água fria, ou então pensem em sua mãe ou mesmo brinquem de contar quantos Johns conhecem. Chega a ser engraçado esses exemplos, mas não vejo muita distância do caso do pai do meu amigo, que desligava a tv em cena de beijo. Ainda assim, por mais que eu reprove esse tipo de coisa, ainda acho muito estranho o comportamento ultra-progressista que Kinsey levava. 

O diretor Bill Condon é mais conhecido pelo filme DEUSES E MONSTROS (1998), que mostrava a atração do cineasta James Whale, diretor de FRANKENSTEIN (1931), por um jovem. Condon é homossexual assumido e em KINSEY ele entra também nesse território que ele conhece tão bem. Inclusive, KINSEY ganhou um prêmio de uma Aliança Gay e Lésbica no último sábado. O próximo filme a ser dirigido por Condon vai ser DREAMGIRLS, sobre o antigo grupo musical de Diana Ross. Quem vai ser a Diana: Beyonce Knowles.

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