É uma pena ver o pouco espaço que o cinema nacional tem recebido na televisão brasileira. Na tv a cabo, os filmes brasileiros ficam restritos ao gueto do Canal Brasil. Por que canais grandes como a HBO ou o Cinemax não se propõem a exibir os filmes também? Na tv aberta, o pouco espaço que existe agora, depois do fim da sessão nacional da BAND, vem do Intercine da Rede Globo nas segundas-feiras. Quase sempre é possível ver filmes importantes nessas sessões. Por lá já passaram grandes filmes como A RAINHA DIABA, COPACABANA ME ENGANA e MINEIRINHO VIVO OU MORTO. Foi de uma dessas sessões que eu vi A MALDIÇÃO DO SANPAKU (1991), de José Joffily.
O filme foi produzido num momento particularmente difícil do cinema brasileiro. Collor de Melo tinha praticamente acabado com a produção de filmes no Brasil, com a extinção da Embrafilme. Mesmo assim, alguns heróis da resistência como Ivan Cardoso, com O ESCORPIÃO ESCARLATE (1990), Miguel Faria Jr., com STELINHA (1990), e Carlos Reichenbach, com ALMA CORSÁRIA (1993), mantiveram acesa a chama do cinema brasileiro, antes da tal retomada, que é geralmente atribuída ao sucesso do filme CARLOTA JOAQUINA (1995), de Carla Camurati. A MALDIÇÃO DO SANPAKU faz parte dessa safra minguada de pouquíssimos filmes da primeira metade dos anos 90.
O filme guarda parentesco com A DAMA DO CINE SHANGHAI (1987), de Guilherme de Almeida Prado, ainda que não seja tão brilhante. Ambos os filmes se pretendem homenagens ao cinema noir americano dos anos 40 e 50. A figura da mulher fatal não poderia deixar de existir. E nesse sentido, Patricia Pillar desempenha muito bem o seu papel de mulher capaz de enlouquecer e transformar os homens. Na época, ela estava no auge da beleza. No mesmo ano ela protagonizou uma bela cena de strip-tease em SALOMÉ, novela da Rede Globo. As vítimas (ou seriam abençoados?) são os personagens de Roberto Bomtempo e Felipe Camargo, ator que está de volta às telas com o filme JOGO SUBTERRÂNEO, de Roberto Gervitz. Já Bomtempo voltou a trabalhar com o diretor José Joffily dez anos depois em DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA (2002).
A trama de A MALDIÇÃO DO SANPAKU envolve uma jóia preciosa que é surrupiada por Bomtempo. Quando o chefão (Sérgio Britto) descobre que foi enganado, vai ao encalço do traidor. Ele se esconde no apartamento de Felipe Camargo, sujeito que não liga muito pra dinheiro ou luxo e que gosta mesmo é de escrever poesias. Patrícia Pillar é a aeromoça que ajuda no transporte das pedras dos EUA para o Brasil. Ainda no elenco, além da excelente participação de Rogéria, vemos Jonas Bloch, Nelson Dantas e o grande Wilson Grey.
O final do filme traz uma frase interessante do personagem de Felipe Camargo: "vida boa não é vida contada, é vida vivida", típica de quem costuma viver mais no mundo das idéias do que no mundo concreto e de repente descobre a felicidade real e tangível. De qualquer maneira, continuo achando ideal o meio termo: é possível viver a vida intensamente sem ter que largar mão dos livros e dos filmes, que, além de nos enriquecer espiritualmente, não deixam de ser muito divertidos.
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