sexta-feira, maio 20, 2005

ESCRAVOS DO RANCOR (Abismos de Pasión)

 

Quando Luis Buñuel fez ESCRAVOS DO RANCOR (1954), melodrama baseado no clássico romance gótico "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë, ele já tinha presenteado a humanidade com pelo menos duas obras-primas produzidas no México - OS ESQUECIDOS (1950) e O ALUCINADO (1953). Comparando com essas duas obras, não deixa de ser uma queda para o genial surrealista essa sua incursão no melodrama mexicano. ESCRAVOS DO RANCOR também perde se compararmos com a obra-prima hollywoodiana dirigida por William Wyler em 1939. 

"O Morro dos Ventos Uivantes" é uma das obras literárias mais adaptadas para as telas. Se procurarmos no IMDB por "Whuthering Heights", aparecerá uma lista com treze títulos - uma mini-série e doze filmes -, sendo os mais célebres os dirigidos por Wyler, Buñuel, Yoshishige Yoshida e Jacques Rivette. Uma versão feita para a tv é talvez a mais fácil de se encontrar nas locadoras. É uma dirigida por Peter Kosminky, diretor do ótimo DEIXE-ME VIVER, e estrelada pela maravilhosa Juliete Binoche. Mas o filme é tão chato que eu não consegui ir até o final. 

Não deixa de despertar uma grande curiosidade saber que existe uma adaptação da obra de Brontë realizada por nosso querido Buñuel. A trama do filme já se adianta um pouco em relação à versão de Wyler, mostrando Catalina, a personagem principal, já casada. O casamento está tranqüilo até a chegada de Alejandro, irmão de criação e grande amor da vida dela. Ele havia partido da cidade para ficar rico e volta para buscá-la. A seqüência em que ele chega na chuva, no início, é uma das melhores do filme. Também se destaca a trágica cena final, um misto de ultra-romantismo gótico inglês com paixão brutal latina. 

Ainda assim, o filme não me empolgou. Me deu até um pouco de sono. Lembro-me pouco da versão de Wyler, mas se eu não engano, o romantismo na versão americana parecia ser mais levado às últimas conseqüências. Lembro vagamente de um dos personagens falando com o espírito do outro nos montes e em todo lugar. Algo bem mais sombrio. 

ESCRAVOS DO RANCOR faz parte da série de DVDs do diretor espanhol que a Versátil está botando no mercado. Entre os títulos mais recentes, a distribuidora lançou um DVD contendo UM CÃO ANDALUZ (1929) e A IDADE DO OURO (1930), primeiros trabalhos de Buñuel. Também saiu há pouco tempo o curioso ROBINSON CRUSOÉ (1954). 

E atenção: em junho a Versátil vai lançar o NOSFERATU, de Werner Herzog, com Klaus Kinski como o vampirão chupando o sangue da bela e pálida Isabelle Adjani!! 

P.S.: Fui ontem ao Espaço Unibanco conferir os curtas do projeto Petrobrás. Um desses curtas, VINIL VERDE, de Kleber Mendonça Filho, está sendo exibido no Festival de Cannes, e me impressionou tanto que tive um pesadelo relacionado à história do filme, ontem à noite. Assustador e imperdível. Melhor ir ver sem saber nada da história. Está disponível também no site Porta Curtas. Vale também conferir o LASTNOTE.COM, de Leo Falcão, com Lázaro Ramos. O filme é sobre um site na internet que auxilia as pessoas que desejam se suicidar. Já o curta de Cláudio Assis, SONETO DESMANTELLO BLUE, me decepcionou bastante. É bem chatinho. O especial fecha com o ótimo A HISTÓRIA DA ETERNIDADE, de Camilo Cavalcante, com um plano longo e surreal. Lembra Alejandro Jodorowsky.

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