Quando Luis Buñuel fez ESCRAVOS DO RANCOR (1954), melodrama baseado no clássico romance gótico "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë, ele já tinha presenteado a humanidade com pelo menos duas obras-primas produzidas no México - OS ESQUECIDOS (1950) e O ALUCINADO (1953). Comparando com essas duas obras, não deixa de ser uma queda para o genial surrealista essa sua incursão no melodrama mexicano. ESCRAVOS DO RANCOR também perde se compararmos com a obra-prima hollywoodiana dirigida por William Wyler em 1939.
"O Morro dos Ventos Uivantes" é uma das obras literárias mais adaptadas para as telas. Se procurarmos no IMDB por "Whuthering Heights", aparecerá uma lista com treze títulos - uma mini-série e doze filmes -, sendo os mais célebres os dirigidos por Wyler, Buñuel, Yoshishige Yoshida e Jacques Rivette. Uma versão feita para a tv é talvez a mais fácil de se encontrar nas locadoras. É uma dirigida por Peter Kosminky, diretor do ótimo DEIXE-ME VIVER, e estrelada pela maravilhosa Juliete Binoche. Mas o filme é tão chato que eu não consegui ir até o final.
Não deixa de despertar uma grande curiosidade saber que existe uma adaptação da obra de Brontë realizada por nosso querido Buñuel. A trama do filme já se adianta um pouco em relação à versão de Wyler, mostrando Catalina, a personagem principal, já casada. O casamento está tranqüilo até a chegada de Alejandro, irmão de criação e grande amor da vida dela. Ele havia partido da cidade para ficar rico e volta para buscá-la. A seqüência em que ele chega na chuva, no início, é uma das melhores do filme. Também se destaca a trágica cena final, um misto de ultra-romantismo gótico inglês com paixão brutal latina.
Ainda assim, o filme não me empolgou. Me deu até um pouco de sono. Lembro-me pouco da versão de Wyler, mas se eu não engano, o romantismo na versão americana parecia ser mais levado às últimas conseqüências. Lembro vagamente de um dos personagens falando com o espírito do outro nos montes e em todo lugar. Algo bem mais sombrio.
ESCRAVOS DO RANCOR faz parte da série de DVDs do diretor espanhol que a Versátil está botando no mercado. Entre os títulos mais recentes, a distribuidora lançou um DVD contendo UM CÃO ANDALUZ (1929) e A IDADE DO OURO (1930), primeiros trabalhos de Buñuel. Também saiu há pouco tempo o curioso ROBINSON CRUSOÉ (1954).
E atenção: em junho a Versátil vai lançar o NOSFERATU, de Werner Herzog, com Klaus Kinski como o vampirão chupando o sangue da bela e pálida Isabelle Adjani!!
P.S.: Fui ontem ao Espaço Unibanco conferir os curtas do projeto Petrobrás. Um desses curtas, VINIL VERDE, de Kleber Mendonça Filho, está sendo exibido no Festival de Cannes, e me impressionou tanto que tive um pesadelo relacionado à história do filme, ontem à noite. Assustador e imperdível. Melhor ir ver sem saber nada da história. Está disponível também no site Porta Curtas. Vale também conferir o LASTNOTE.COM, de Leo Falcão, com Lázaro Ramos. O filme é sobre um site na internet que auxilia as pessoas que desejam se suicidar. Já o curta de Cláudio Assis, SONETO DESMANTELLO BLUE, me decepcionou bastante. É bem chatinho. O especial fecha com o ótimo A HISTÓRIA DA ETERNIDADE, de Camilo Cavalcante, com um plano longo e surreal. Lembra Alejandro Jodorowsky.
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