domingo, dezembro 19, 2004

CHANTAGEM E CONFISSÃO (Blackmail)



Dando continuidade à leitura de "Hitchcock/Truffaut", como também da entrevista de Alfred Hitchcock cedida a Peter Bogdanovich em "Afinal, Quem Faz os Filmes", aluguei o DVD de CHANTAGEM E CONFISSÃO (1929).

Para minha surpresa acabei gostando mais desse filme do que da maioria dos filmes de Hitchcock da década de 30 que vi. Foi o primeiro filme falado do diretor (e da Inglaterra), e Hitchcock faz suspense até em torno disso, já que inicialmente, exceto pela música de fundo, o filme é mudo. Só depois de alguns minutos é que o som aparece.

A história é bem interessante e antecipa alguns dos temas que seriam recorrentes na filmografia de Hitchcock. Anny Ondra namora um detetive da Scotland Yard (John Longden), mas está a fim de sair com outro sujeito (Cyril Ritchard). Depois de provocar uma briga com o namorado num restaurante, ela vai para a casa do outro. Chegando lá, esse sujeito tenta estuprá-la, mas ela pega uma faca e o mata. O namorado detetive vai, então, investigar o caso.

A cena em que a protagonista segura, trêmula, a faca ensangüentada é uma das imagens mais marcantes dos filmes de Hitch. O tema da culpa ("todos são culpados", dizia Hitchcock) é explícito. A personagem de Ondra sente-se culpada ao trair o namorado, mas sofre ainda mais com o peso da morte de alguém na consciência.

Lendo as entrevistas dos dois livros citados, soube que a atriz Anny Ondra era alemã e mal falava inglês, e como inicialmente achava-se que o filme ia ser mudo, não deu pra substituir a atriz por uma inglesa a tempo. E, como naquela época ainda não existia dublagem, Hitchcock recorreu a uma idéia interessante: contratou uma atriz inglesa para, com um microfone, fazer a voz de Anny, sentada no canto do set, enquanto ela apenas mexia a boca.

O final do filme foi uma concessão para o público que queria um final feliz para os filmes. Hitchcock, por sua vontade, teria colocado a protagonista na cadeia, reforçando ainda mais a idéia da culpa, seguida do castigo. No livro de Truffaut, eles até chegam a comentar sobre uma adaptação de "Crime e Castigo" para o cinema, coisa que Hitchcock é totalmente contra.

A seqüência da perseguição no Museu Britânico funciona como um preview do que Hitch faria em SABOTADOR (1942), na famosa cena na Estátua da Liberdade.

Esse também foi o filme que apresentou a primeira aparição célebre de Hitchcock numa cena. Antes ele tinha aparecido apenas em O PENSIONISTA (1926), mas mal dava para vê-lo. A partir de CHANTAGEM E CONFISSÃO, essas aparições ficariam mais constantes.

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