segunda-feira, dezembro 06, 2004

LUTERO (Luther)



O meu interesse por LUTERO (2003), o filme de Eric Till, tem mais a ver com minha formação protestante/evangélica do que por interesses estéticos, já que o filme é bom, correto, mas não tem nada de especial esteticamente falando. É até um filme bem didático. Algo já esperado em se tratando de uma produção financiada pela organização americana Thrivent Financial for Lutherans e pela Igreja Evangélica da Alemanha.

Sempre tive vontade de ver nas telas a biografia de uma figura histórica que sempre admirei, mesmo não conhecendo a fundo a sua história e sabendo que ele não foi nenhum santo. Martinho Lutero foi o homem que teve coragem de peitar a toda-poderosa Igreja Católica e o Papa Leão X, que, a fim de arrecadar fundos para cobrir os rombos da Igreja, vendia cargos eclesiásticos, relíquias e as absurdas indulgências, aproveitando-se da ignorância e da ingenuidade do povo. A tal indulgência era um pedaço de papel que dava direito ao cristão de entrar no paraíso, livrando-se do temido fogo do inferno. Bastava pagar pra isso. Quer dizer, quem era rico podia ficar tranqüilo. A venda das indulgências era o ponto principal das 95 teses de Lutero, mas sua importância vai bem além disso.

A Reforma Protestante é considerada um dos marcos iniciais para a entrada do mundo ocidental na era moderna, já que após Lutero outros líderes protestantes, como Calvino, atenderam aos interesses da burguesia, dando início ao Capitalismo, propondo uma religião que aceitava o lucro - a Igreja Católica via a obtenção do lucro como um pecado (pura hipocrisia, claro). Essa é talvez uma das razões porque os países mais ricos da atualidade são protestantes.

O pior é que a Igreja Católica, em vez de aprender com Lutero e admitir os seus erros, fez uma Contra-Reforma que tornou ainda mais sujo o seu passado. Na Contra-Reforma, eles utilizaram uma arma horrenda para impedir os fiéis de sair da Igreja: a Inquisição, onde morreram milhares de pessoas inocentes na fogueira, ou torturadas em instrumentos de tortura que só podem ter sido inventados por mentes diabólicas.

Outra coisa importante, talvez a maior contribuição de Lutero para a humanidade, foi a tradução do Novo Testamento para o alemão, para que todo mundo pudesse ler e interpretar as palavras da Bíblia e não ficasse à mercê de um clero dominador que preferiria que o povo fosse analfabeto para poder dominá-los mais facilmente. Ajudou também o fato de a imprensa ter sido recém-inventada nessa época.

O filme mostra muita coisa interessante: mostra o porquê de Lutero ter entrado na Igreja (ele quase morreu atingido por um raio), como ele se casou com uma freira, como a Igreja fazia para assustar as pessoas, a venda de indulgências e relíquias (provavelmente falsas), a proteção do príncipe Frederico, o Sábio (interpretado pelo ótimo Peter Ustinov). Aliás, o príncipe Frederico é tão gente fina no filme (mais até que o Pilatos de A PAIXÃO DE CRISTO, de Mel Gibson), que fica na cara que na realidade ele não era tão legal assim. Mas essas e outras liberdades não chegam a comprometer o resultado final do filme (até Joseph Fiennes está bem, vejam só!), que foi muito bem recebido pelo público. Nunca vi uma sessão de arte tão lotada, como estava nessa manhã de sábado. Havia, claro, muita gente evangélica no cinema. Tanta gente que uma senhora católica, durante o debate, disse estar se sentindo sufocada com aquele ambiente de revolta contra a Igreja Católica, igreja que ela achava "maravilhosa".

O debate foi interessante, mas poderia ter sido melhor. Bom seria se, como bem comentou um dos espectadores, houvesse um padre para defender o lado da Igreja ou assumir de vez a culpa, como o próprio Papa João Paulo II tem feito de vez em quando.

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