terça-feira, dezembro 07, 2004

SOB O DOMÍNIO DO MAL (The Manchurian Candidate)



Demorou mas aqui estou eu pra falar um pouco sobre SOB O DOMÍNIO DO MAL (2004), refilmagem do filme homônimo de John Frankenheimer, datado de 1962. Tinha minhas dúvidas se já tinha visto o filme original. Só tive certeza quando vi a cena dos assassinatos durante a sessão de lavagem cerebral. Jonathan Demme, diretor do novo filme, trocou a Guerra da Coréia do primeiro filme pela Guerra do Golfo, mas isso tem pouca importância.

Falando no diretor, hoje dei uma lida no texto sobre ele na Senses of Cinema, seção Great Directors. Enquanto o site ainda está devendo um dossiê do Luis Buñuel, um dos dez maiores gênios da história do cinema, hoje é possível encontrar lá o dossiê de Demme, um bom cineasta em atividade, mas que eu tenho minhas dúvidas se pode ser considerado um autor, baseado no que eu pude ver de sua filmografia. Através do texto, soube que Demme, assim como Scorsese e Coppola, começou a carreira nos anos 70, fazendo filme B para a produtora de Roger Corman.

Antes que eu ataque dizendo que SOB O DOMÍNIO DO MAL é o melhor filme de Demme desde O SILÊNCIO DOS INOCENTES (1991), seria melhor eu procurar ver A BEM AMADA (1998), considerado pelo relator do dossiê "uma obra-prima de realismo mágico", e THE TRUTH ABOUT CHARLIE (2002), refilmagem de CHARADA (1963), de Stanley Doney, que foi recebido com frieza pela crítica, mas parece ser uma homenagem aos filmes da nouvelle vague.

Lembro que quando vi DE CASO COM A MÁFIA (1988) no cinema e depois TOTALMENTE SELVAGEM (1986) na tv, imaginei que aquele fosse o estilo do diretor - alegre, dinâmico, quente. Adoro TOTALMENTE SELVAGEM. Pra mim, é o seu melhor filme. O meu desapontamento com Demme veio com FILADÉLFIA (1993), um filme sobre gays assexuados e zumbificados. De repente, ver Demme se tornar um diretor sem personalidade foi desapontador.

Vendo dessa maneira, SOB O DOMÍNIO DO MAL poderia ter sido dirigido por qualquer outro diretor competente de Hollywood. Mas independente de quem tenha dirigido, o filme é muito bom e por vezes assustador, já que é muito fácil nos dias de hoje ver uma conspiração por trás daquelas bandeirinhas com as cores dos EUA e aqueles sorrisos hipócritas dos políticos. Apesar do tom nada realista, ainda é possível ficar angustiado com o drama do personagem de Denzel Washington, um sujeito que fica sabendo que foi manipulado pelo Governo e esqueceu de coisas terríveis que aconteceram durante a guerra. Meryl Streep está incrivelmente má nesse filme como a mãe do candidato a vice-presidente da república (Liev Schreiber). Interessante o papel de Bruno Ganz. Ele que já foi anjo em ASAS DO DESEJO, agora desempenha papel semelhante tanto nesse filme quanto no recém-visto LUTERO. Ele é o amigo de Denzel que o ajuda a relembrar o passado encoberto pela lavagem cerebral. Nem que seja na base do eletrochoque. Bonito o final do filme. Ver o mar deve ser algo relaxante. Até pra quem tem um passado perturbador recém descoberto.

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