segunda-feira, maio 17, 2021

COMEDIANS IN CARS GETTING COFFEE - PRIMEIRA TEMPORADA



Decidi ver e rever os episódios desta série de Jerry Seinfeld antes de ver apenas os inéditos (para mim). E ver na ordem original, e não na ordem que a Netflix os colocou. Deve ser algum tipo de TOC que eu tenho. Pretendo ver todas as temporadas até o fim do ano. Com certeza não será nenhum sacrifício. Pra quem ainda não sabe do que se trata, COMEDIANS IN CARS GETTING COFFE, que começou na internet em 2012 (esta primeira temporada), e depois foi parar na Netflix, apresenta Jerry sempre com um carro diferente (e "antigo") convidando um amigo ou amiga para tomar um café e conversar. Raramente vou falar sobre os carros, pois é o que menos me interessa na série. 

"Larry Eats a Pancake"

O primeiro episódio é este com Larry David. É muito bonito ver a cumplicidade dos dois, o elogio que Jerry faz a Larry ao dizer que ele é a mente mais brilhante que ele conheceu. Larry nem é tão divertido assim como uma pessoa, dá mesmo pra vê-lo como um sujeito difícil de lidar. Mas é engraçada a questão que ele coloca de a mulher dele não aguentar o fato de ele tomar chá em vez de café etc. No mais, é mais um episódio de climas do que de conteúdos nas conversas, mas são de coisas simples que saíram muitas das ideias para a série clássica, como a questão de o charuto ser mais relaxante do que o cigarro. O carro usado por Jerry é um fusquinha 1952.

"Mad Man in a Death Machine"

Um dos mais divertidos episódios, muito por causa do medo de Ricky Gervais em andar no carro de 1967, sem airbag ou cinto de segurança e com Jerry dirigindo rápido feito um louco. Muito do episódio se passa dentro do carro e é muito divertido, mas a conversa no café também é, até porque Ricky está mais calmo e traz assuntos interessantes. A conversa sobre Gervais como apresentador do Globo de Ouro vem à tona, mas terminar no café com falando dos últimos dias de Hitler foi surpreendentemente hilário.

"A Monkey and a Lava Lamp"

Talvez por não conhecer Brian Regan o episódio não tenha sido divertido pra mim. Ou talvez ele não seja mesmo divertido. A melhor parte do episódio é a ida para o café aproveitando a paisagem da praia de Santa Monica e quando o carro (um Dodge 1970 Challenger, o mesmo modelo do filme CORRIDA CONTRA O DESTINO) não quer pegar. A conversa no café também não traz nada de muito interessante, mas Jerry sabe deixar tudo sempre descontraído e mesmo uma coisa como a fala de uma senhora dizendo que ele fica bem de camisa cor-de-rosa ganha significado interessante.

"Just a Lazy Shiftless Bastard"

Jerry sempre tira o melhor dos encontros que promove neste programa. E aqui ele tem sorte de ter alguém como Alec Baldwin, que combina uma segurança no que vai dizer com uma espécie de insegurança com o que conseguiu na vida. Compara seu sucesso na carreira com o sucesso do Jerry, que parece ter conseguido muito mais sem trabalhar tanto quanto ele para isso. A conversa no café é tão boa quanto a conversa no carro, com detalhes aparentemente insignificantes no pedido de Alec que fazem uma diferença enorme em se tratando de um produto feito pelo Jerry. Há algo na conversa que se destaca, que é quando Jerry diz para Alec que ele é um ótimo ator com a mente de um roteirista e o quanto isso pode ser incômodo. Destaque também para a reclamação de Alec de ter largado o sorvete por causa do problema de ganhar peso, coisa que Jerry nunca teve.

"A Taste of Hell from on High"

Talvez eu esteja ficando exigente com a série, tendo visto tantos episódios excelentes, sempre escolhendo pelo convidado. Não conheço o convidado deste episódio, Joel Hodgson, que descobri ser um stand-up comedian. Há uma cena interessante, que é quando Jerry quase atropela um ciclista, que fica fulo com ele e começa a xingar. Em vez de tentar fugir ou algo parecido, Jerry desce o vidro do carro para falar com ele, e logo o bom humor vem, quando o rapaz o reconhece. (Ou teria reconhecido Joel Hodgson?) No café, o assunto do porquê o pote de ketchup vem com a tampa na parte de baixo e faz barulho é a tônica. O que acaba importando mais é o bom humor e o bem estar do programa, que sempre escolhe um lugar diferente (creio eu). (Engraçado que com o tempo, eu que não gostava de café, passei a me tornar fã, e agora que não bebo mais álcool, a saída para um café me parece mais atraente do que a ida a um bar.)

"Unusable on the Internet"

Acredito que só tinha visto o Bob Einsten em alguns episódios de CURB YOUR ENTHUSIASM. Ao que parece se tornou amigo do Jerry por tabela por causa do Larry David. Achei o episódio um pouco desconfortável. Parece que o tipo de humor que o Einstein faz é de deixar a pessoa sem jeito. E logo o Jerry, que é mais certinho, ter que ouvir piadas de maconha e cocaína, não sei se foi muito bom. De todo modo, os dois parecem muito amigos, a ponto de dizer ou fazer o que quiserem. Foi a primeira vez que eles saíram de um café por ser muito ruim e foram parar em uma lanchonete, onde ficaram satisfeitos com a comida. O problema só achei mesmo o Einstein, um tanto sem graça.

"I Hear Downtown Abbey Is Pretty Good"

Uma pena que o episódio 7, com o Barry Marder, não tenha sido incluído pela Netflix. Há um outro com ele lá, mas é da temporada de 2019. Então, passei para este oitavo, com os amigos Mario Joyner e Colin Quinn, que eu também não conhecia. Uma coisa que me encantou neste episódio foi o passeio de carro, principalmente. Jerry vai com Colin até um café no Novo Brooklyn e lá Mario os encontra. Ao que parece Mario mora lá no bairro. E é Mario quem conta uma situação que ocorre no ônibus, de agressão a uma tentativa de assalto. E Jerry, que vive em redoma de pessoas ricas, alheio à situação de pobreza da área mais pobre da cidade, fica admirado que existe ainda esse tipo de coisa acontecendo. O espaço me pareceu agradável, ainda que um pouco apertado, mas os três pareciam muito tranquilos e à vontade.

"I Want Sandwiches, I Want Chicken"

Bem divertido este episódio em que Jerry encontra os dois grandes amigos Carl Reiner e Mel Brooks. A maior parte do episódio se passa na casa de Reiner, com a presença de Brooks, contando histórias bem legais sobre sua peça The Producers, que deu origem ao filme PRIMAVERA PARA HITLER (1967), e que fez bastante sucesso na Alemanha, inclusive. Na época da gravação do episódio os dois já tinham mais de 90 anos e esse detalhe (a velhice) é também importante na conversa que acontece na casa (e no café), mas ambos parecem muito felizes, apesar de tudo. Reiner morreu no ano passado, Brooks está com 95 anos e vivo ainda. Certamente, sentindo falta do amigo. Há uma piada recorrente e famosa de Jerry que ele lembra quando está com Reiner no café: o fato de que dar gorjeta depois que você come não parece muito justo. Afinal, depois de satisfeito, vc já não valoriza mais tanto assim aquilo que você acabou de comer.

"It's Bubbly Time, Jerry"

Segunda vez que vejo este episódio e o resultado talvez tenha sido ainda mais agradável. Na verdade, agridoce. Aqui temos de volta um ator que fez um dos personagens mais queridos da televisão, o Kramer, vivendo um momento de crise existencial provocada por uma mancada durante um show de comédia sete anos atrás. Michael Richards incorpora novamente Kramer durante todo o trajeto da sua casa até o café (ou restaurante) e, durante esse momento em que o Kramer renasce, a magia está de volta. É impressionante. E voltamos a sorrir de orelha a orelha. Mas é difícil não ficar triste nos momentos de melancolia do episódio, assim como também é comovente o quanto Richards vê em Jerry uma pessoa a quem ele deve o melhor papel de sua vida, e possivelmente os melhores momentos de sua vida, ainda que ele diga, em certo momento, que gostaria de ter se divertido mais durante o seriado. Jerry o convence de que eles estavam fazendo um show não para eles, mas para os espectadores. Episódio mágico.

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