sexta-feira, setembro 18, 2020

MALDIÇÃO (House by the River)



Não está sendo fácil este mês de setembro. Cansaço bateu na mesma proporção que o trabalho aumentou consideravelmente. Por isso ando com pouco tempo e energia para escrever para o blog, assim como não estou conseguindo administrar meu tempo para dar conta das pendências e por isso fico com complexo de culpa até para parar um tempinho e vir aqui escrever umas linhas. Até porque às vezes não se trata apenas de escrever o que penso e pronto. Geralmente gosto de ler a respeito, para anexar também informação junto às minhas impressões.

Ao menos com relação aos filmes do Fritz Lang, que fazem parte ainda de um projeto meu de ver a filmografia completa do diretor, eu pretendo guardar sempre um tempinho para escrever a respeito. E o mais recente dos trabalhos que vi de Lang é um dos melhores, MALDIÇÃO (1950), um suspense que lembra os melhores clássicos de Alfred Hitchcock.

Aliás, é bom lembrar que o trabalho anterior de Lang, O SEGREDO DA PORTA FECHADA (1947), também guarda algumas semelhanças com os filmes do mestre do suspense. É curioso acompanhar a sua obra do diretor austríaco e ver uma espécie de jogo de cores (ou de tons de cinza) que vai se formando aos poucos. Por exemplo, como o filme de 47 é talvez o mais barroco dos trabalhos do diretor, esse traço estético persiste, ainda que em menor intensidade, em MALDIÇÃO.

A trama se passa em fins do século XIX em uma área rural e tem um ar de melodrama gótico que apresenta uma espécie de releitura da história de Caim e Abel. Sendo Caim, o romancista Stephen Byrne, que, depois de assediar sexualmente a empregada da casa e matá-la estrangulada, ele ainda convence o irmão John (Byrne) (Lee Bowman) a ocultar o cadáver. Como eles moram em frente a um rio, a ideia que surge é colocar o corpo com um peso debaixo do rio. É a partir daí que a trama se desenrola, de maneira tão tensa e cheia de suspense quanto FESTIM DIABÓLICO, por exemplo, para citar um título de temática semelhante e feito dois anos antes.

Depois que a jovem mulher é tida como desaparecida, o terrível novelista usa a polêmica que surgiu em torno de seu nome para desenvolver uma história parecida com a que aconteceu de verdade, para capitalizar em cima do sensacionalismo. E deu certo: seu novo livro se tornou um best-seller. De certa forma, isso me fez lembrar de INSTINTO SELVAGEM, de Paul Verhoeven, que também tem uma romancista de histórias de crime que é acusada de um assassinato. No filme de Lang, porém, quando o corpo surge, é o irmão o principal suspeito do crime, o irmão que no início queria contar tudo para a polícia e que, desde a noite do crime, não conseguiu mais paz de espírito. Enquanto isso, Stephen se comporta cada vez mais como um sociopata.

Realizado na Republic, MALDIÇÃO é uma produção mais modesta de Lang. Ainda assim, ele capricha no visual o máximo que pode dentro de um orçamento mais limitado. A pouca luminosidade, especialmente nas cenas dentro da casa, é um elemento que auxilia bastante na construção visual e atmosférica desde o início. Quanto ao suspense, a cena da ocultação do cadáver lembra algo que Lang já havia feito antes em cena tensa de UM RETRATO DE MULHER (1944). Desta vez, sai o cenário urbano e entra um cenário rural e pantanoso.

Há, mais uma vez, uma bela utilização do som e do silêncio por parte de Lang, um mestre nesse quesito, desde os momentos iniciais, passados na casa em frente ao rio. Outro aspecto recorrente são as cenas econômicas de tribunal, algo que o cineasta foi aprimorando desde seus primeiros filmes nos Estados Unidos, até chegar ao básico e minimalista.

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