sábado, abril 18, 2020

SEDUÇÃO (Cat Chaser)

Achava que não encontraria uma cópia legendada deste filme menor de Ferrara, que infelizmente não teve um bom resultado, muitos dizem por ter sido arruinado na sala de montagem pela Fox e acabou sendo lançado apenas em VHS. O corte original tinha 157 minutos, o que não quer dizer que tudo constaria, mas ver um filme de resultado confuso e com fortes problemas de ritmo com apenas 90 minutos é sinal de que os cortes feitos foram para prejudicar o filme. Inclusive, o próprio ator Peter Weller se recusou fazer a voice-over na pós-produção e outra voz é ouvida, o que não deixa também de ser muito estranho.

A princípio essa voice-over que SEDUÇÃO (1989) traz parece uma marca tanto da adaptação do romance de Elmore Leonard (e que foi roteirizado pelo próprio romancista) quanto da própria característica dos filmes noir. A mim não me incomodou tanto, mas não deixa de parecer uma muleta, levando em consideração o resultado do filme.

Uma das vantagens de SEDUÇÃO para a carreira que Ferrara seguiria de maneira gloriosa a partir de O REI DE NOVA YORK (1990) é que, desde então, ele não abriria mão da montagem final, ou pelo menos de negociar com veemência para que sua visão e sua vontade estivessem no corte definitivo. Foi mais ou menos o que aconteceu com David Lynch quando dirigiu DUNA e desde então jamais faria outro projeto que não fosse pessoal. Ferrara, no entanto, faria ainda um projeto de encomenda, mas é um baita trabalho, OS INVASORES DE CORPOS - A INVASÃO CONTINUA (1993), para a Warner.

Na trama de SEDUÇÃO, Paul Weller é um ex-marine que agora gerencia um pequeno hotel na Flórida. O excesso de luz do lugar, inclusive, até destoa da característica mais noturna dos trabalhos de Ferrara. Outro local que também é explorado no filme é a República Dominicana, onde se passa boa parte da trama, e onde o protagonista tem um reencontro com um amor do passado, a femme fatale vivida por Kelly McGillis. O reencontro dos dois fica um pouco no ar, um tanto confuso. Sem falar que a reunião deles acontece com já cerca de meia hora de filme.

Ela tem um marido milionário, mafioso que parece ser suficientemente perigoso para que a mulher peça divórcio. E há um acordo pré-nupcial, que garante a ela 2 milhões de dólares em caso de separação. Mas as coisas se complicam a ponto de a mulher sugerir ao amante que mate o marido, um clichê dos filmes do gênero, mas que ainda é bem-vindo quando resulta em um bom trabalho.

Mesmo para Ferrara, as cenas de sexo passam longe de serem tórridas e as cenas de violência e gore parecem moderadas. Claro, isso depende do interesse e/ou tolerância de cada espectador. SEDUÇÃO vale mais pela curiosidade, especialmente para quem está acompanhando a carreira do cineasta, como é o meu caso.

+ TRÊS FILMES

MORTO NÃO FALA

Dennison Ramalho tem pelo menos uma obra-prima em sua filmografia, o curta AMOR SÓ DE MÃE (2003). E há muito de AMOR SÓ DE MÃE neste seu primeiro longa, como o protagonista que comete escolhas terríveis e precisa pagar um alto preço, além do uso tanto do horror de fantasmas quanto do uso de gore. Quem eu gostei mais no filme foi de Bianca Comparato. Sua cena com uma faca na mão no ápice do filme é uma beleza. Aliás, o filme é cheio de momentos brilhantes e que tiram o filme de um torpor que de vez em quando parece se instalar. Na expectativa pelo próximo filme de Ramalho. Ano: 2018.

RAIVA

Curioso como o cinema português gosta de falar sobre a miséria em seu país. Até mais do que o Brasil, que sofre muito mais com isso. Aqui a temática é bem-sucedida, mesmo que o diretor leve a trama para 1950. O espaço geográfico é de uma tristeza e de um isolamento que dá uma angústia só de ver. E depois tem toda a preocupação para conseguir uma coisa básica, como um pão para comer. Leonor Silveira, ainda que envelhecida e com uma personagem naturalmente sofrida, continua bela. Direção: Sérgio Tréfaut. Ano: 2018.

VERMELHO SOL (Rojo)

Chama a atenção o cuidado formal da direção desde as primeiras cenas. E mais ainda na cena do restaurante, a primeira cena tensa e que dá o tom do filme. Depois há mais coisas que parece que serão o enredo principal, mas acabam funcionando como uma espécie de painel do estado das coisas daquele momento da Argentina (anos 70), mas que deve estar refletindo para a atualidade também. Filmaço! Direção: Benjamín Naishtat. Ano: 2018.

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