quinta-feira, abril 09, 2020

9 LIVES OF A WET PUSSY

Voltando um pouco no tempo em minha peregrinação pela obra de Abel Ferrara, chego a seu primeiro longa-metragem, o pornô 9 LIVES OF A WET PUSSY (1976), assinado com o pseudônimo Jimmy Boy L. Dizem que se não fosse a participação como performer do próprio Ferrara na cena em que ele é um pai (ou seria avô?), que é embriagado por duas irmãs para servir de objeto sexual para ambas, poucos descobririam que esse filme teria sido dirigido pelo hoje famoso cineasta. A tal cena, aliás, possui elementos bíblicos, fazendo uma referência ao conto das filhas de Ló, presente no livro de Gênesis. Há quem diga que isso é uma indicação das obsessões do autor escondida no filme.

No mais, a apreciação de 9 LIVES é um tanto difícil, por não ser exatamente um pornô muito animador, do ponto de vista erótico, já que as cenas de sexo são filmadas sem muita inventividade nos quesitos voltagem erótica e fantasia. O que vemos são tradicionais cenas de sexo convencional, uma cena de threesome (a tal cena com Ferrara), uma de sexo lésbico, muito sexo oral; enfim, nada de mais, a não ser a beleza física da protagonista (Pauline LaMonde), que é homenageada nos créditos finais, com justiça.

Além da beleza na textura das imagens, do ponto de vista narrativo, é um filme que se formou especialmente na edição, com a inclusão de uma voice-over da personagem da moça apaixonada por Pauline, vivida por Dominique Santos. Ela recebe cartas de Pauline, em que a jovem conta suas aventuras. Assim, a ideia é trazer para aquelas cenas algum elemento que as torne mais eróticas ou mais transgressoras, já que, pelo material bruto, elas parecem bem burocráticas para quem já viu muito pornôs, tanto os da era do vídeo quanto os clássicos feitos em película. Santos também aparece diversas vezes como a apresentadora das historietas.

O filme já contava com pelo menos dois companheiros de Ferrara: o roteirista Nicholas St. John, também com um pseudônimo nos créditos, e aparecendo em uma cena como um chofer; e o compositor Joe Delia, que trabalharia em uma dúzia de filmes com o cineasta. Inclusive, o trabalho de Delia é outro elemento que ajuda a valorizar o filme, trazendo tanto um tipo tradicional de som mais funkeado característico dos pornôs da época, quanto também alguns elementos que parecem saídos de filmes de horror e que parecem deslocados, e acabam por trazer uma interessante sensação de estranheza e desconforto. Para quem é interessado na obra do diretor, vale ver. Inclusive, no ano passado lançaram nos Estados Unidos uma versão em BluRay. Por causa da assinatura do diretor, acabou por se tornar um cult movie.

+ TRÊS FILMES

CATS

Estava achando, com todas essas brincadeiras de pior filme do ano que o povo andava fazendo, tirando onda dos problemas e dos aspectos bizarros e tal, achava que ficaria minimamente animado. Que nada: bastam 15 minutos de cantoria ruim e brega que a gente já pensa no martírio que serão aqueles quase duas horas de duração. Felizmente consegui ficar com sono para que a tarefa fosse menos dolorosa. Até algo de natureza erótica, por mais sutil que seja, não me pegou ou me inspirou, por mais que eu valorizasse o tempo inteiro o corpo de Francesca Hayward, que faz a gata Victoria. Quanto aos demais astros, é muita vergonha junta, meu Deus. Direção: Tom Hooper. Ano: 2019.

ANTIPORNO (Anchiporuno)

Diferente de MULHER MOLHADA AO VENTO, de Akihiko Shiota, o trabalho que Sion Sono fez para o projeto roman porno reboot foi bem diferente e talvez até mais ousado. Só que não me conquistou, no sentido de que toda a nudez e todo o sexo que é mostrado é no sentido de causar mal estar. Se é esta a intenção, beleza. Ele foi bem-sucedido. E é até possível que o filme cresça na minha memória afetiva. Ano: 2016.

KIKI - OS SEGREDOS DO DESEJO (Kiki, el Amor Se Hace)

Bem divertida comédia sobre amores e diferentes taras. Senti falta de mais ousadia no que se refere ao erotismo, mas já era de esperar. Ainda assim, não é filme para se esnobar, não. Há muitos momentos bem bonitos e alguns até corajosos e polêmicos, como a história do médico que botava sonífero na mulher para poder transar com ela. Direção: Paco León. Ano: 2016.

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