quinta-feira, março 26, 2020

A FORTALEZA (Fortress)

Quarentena, dia 9. Ontem até que eu estive bem, conseguindo conter a ansiedade e a aflição, mas hoje eu não consegui canalizar minha energia durante a manhã e estou tentando, desesperadamente, fazer isto agora. Creio que vai ajudar. Ontem também foi dia da notícia da morte de um cineasta muito querido de quem aprecia o cinema de horror, Stuart Gordon, 72, o maior especialista em adaptação de H.P. Lovecraft para as telas. Baseado em Lovecraft ele fez RE-ANIMATOR (1985), DO ALÉM (1986), HERANÇA MALDITA (1995), DAGON (2001) e DREAMS IN THE WITCH-HOUSE (2005), feito para a série-antologia MASTERS OF HORROR.

Logo, estamos falando de um sujeito que era um apaixonado pelo horror e pela ficção científica também na literatura (há dois títulos dele inspirados em obras de Edgar Allan Poe também). Além do mais, ao lado de gente como Carpenter, Romero, Cohen, Hooper, Dante, Landis e vários outros que se mostraram muito fieis ao gênero especialmente durante a década de 1980.

A lembrança que eu tinha de A FORTALEZA (1992) era de uma exibição na televisão em meados dos anos 1990. Eu tinha começado a assistir e estava curtindo muito, mas por algum motivo nunca aluguei para ver em casa. Com a notícia da morte de Gordon, este foi o filme que me pareceu mais adequado para homenageá-lo, mesmo em se tratando mais de um thriller de ficção científica, ação e suspense sobre fuga da prisão em um cenário futurista distópico. Como eu adoro filme de prisão e fuga e também de distopia estaria matando dois coelhos com uma só cajadada.

A FORTALEZA tem aquele espírito gostoso dos filmes B produzidos nos anos 1980 e muitas vezes encontrados em fitas nas locadoras. A diferença é que é um B-zão com um pouco mais de dinheiro. E embora Christopher Lambert tenha trabalhado algumas poucas vezes com cineastas de primeiro escalão, como Michael Cimino e Claire Denis, foi no cinema de ação mais despretensioso que ele solidificou sua carreira.

E Gordon, ao escalá-lo para estrelar o seu filme, não pensa em pedir uma boa interpretação ou nada do tipo. Inclusive, não faz falta e é até charmoso da parte do filme esse tipo de atuação mais canastrona, tanto dele quanto do elenco de apoio. Gosto muito do vilão do filme, vivido por Kurtwood Smith, assim como gosto muito da personagem da esposa dele, a bela Loryn Locklin, que infelizmente não teve uma carreira bem-sucedida.

Na história, que se passa no futuro, no ano de 2017, as pessoas são impedidas de ter um segundo filho. E o governo tem uma máquina que é capaz de descobrir isso. Tentando driblar a máquina, mas depois descoberta, ambos são presos e levados para a tal fortaleza, uma prisão de segurança máxima enorme e de alta tecnologia. Os detentos são monitorados por câmeras-robôs e tem, dentro de seus intestinos, um aparelho que tanto pode explodir quanto provocar dor. O filme até exagera ao colocar também um controle dos sonhos dos detentos. Nem ter sonhos eróticos eles podem.

O filme fica ainda mais divertido quando começa a rolar uma conspiração para que haja uma tentativa de fuga, assim como fica divertido também quando mostra as brigas entre os detentos. Uma dessas brigas chega a ser eletrizante. Creio se tratar de um filme querido por muitos, mas ao mesmo tempo é geralmente subvalorizado, inclusive pelos fãs de Gordon. Mas pode ser que seja só impressão minha.

+ TRÊS FILMES

CRIME SEM SAÍDA (21 Bridges)

Dentro do que parece ser um momento de carência de bons filmes policiais, este filme é bem-vindo. É elegante, traz um ator que promete ser uma espécie de novo Denzel Washington, tem um jeitão de film noir moderno. Ainda assim, a trama me pareceu um pouco comum e a personagem da Sienna Miller é tão apagada que é quase um fantasma dentro da narrativa. Não sei qual é o problema dessa atriz. Quanto ao diretor, sua experiência maior é na televisão e por isso o filme está sendo vendido com o nome de seus produtores, os irmãos Russo. Direção: Brian Kirk. Ano: 2019.

AS PANTERAS (Charlie's Angels)

Acredito que uma vez que ficamos (mal) acostumados com um tipo de filme de ação com coreografia bem conduzida, como os da série JOHN WICK, filmes feitos sem muito capricho acabam perdendo pontos. E há também aqui, no caso deste novo filme da série AS PANTERAS problemas de ritmo que fazem que depois de uma hora já fiquemos um tanto aborrecidos. Nem mesmo a beleza das três jovens mulheres ajudam a contrabalançar neste sentido. Não deixa de ser um filme simpático e de ter as suas qualidades, como o desejo de trazer o protagonismo ainda mais para as mulheres, mas isso não é o bastante. Direção: Elizabeth Banks. Ano: 2019.

CASAL IMPROVÁVEL (Long Shot)

Esperava mais desta comédia estrelada por dois astros tão cheios de carisma (adoro a Charlize Theron). O que eu senti falta foi uma maior tensão erótica por parte do casal. A relação começa cedo demais, atrapalha um pouco o timing. Ainda assim, há uma cena que é lindona: a de "Must have been love", clássico do Roxxette. Como é comédia com o Seth Rogen, tem que ter algo de grosseiro também, mas tá valendo e é bem-vindo. Direção: Jonathan Levine. Ano: 2019.

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