quarta-feira, fevereiro 17, 2016

O IMPORTANTE É AMAR (L'Important c'Est d'Aimer)



Faleceu hoje um dos mais importantes cineastas poloneses modernos. Embora só tenha 13 longas-metragens no currículo, Andrzej Zulawski deixou marcas fortes. Para os fãs do cinema de horror, ele é mais lembrado por POSSESSÃO (1981), mas este é só mais um de seus trabalhos que lidam com a intensidade das emoções humanas. O IMPORTANTE É AMAR (1975) é baseado em um romance de Christopher Frank intitulado A Noite Americana e é estrelado pela bela Romy Schneider, em interpretação inspirada.

Neste filme, Zulawski dá espaço para que as emoções de seus personagens fluam de maneira bem intensa. Exagerada e histérica, para alguns. Mas não deixa de ser interessante a experiência, especialmente quando entra em cena a música sensacional de Georges Delerue, que inclusive lembra o trabalho dele em O DESPREZO, de Godard, dando um ar solene em diversas cenas. Em determinado momento, aliás, esse sentimento vem à tona em um dos diálogos cruciais para a trama.

O filme acompanha o amor obsessivo do fotógrafo Servais (Fabio Testi) pela atriz decadente Nadine (Romy Schneider). Ela tem um passado de produções pornôs e tenta fazer alguns trabalhos na tentativa de provar a si mesma que é uma boa atriz. O marido dela Jacques (Jacques Dutronc), fã de cinema hollywoodiano, é um sujeito simpático, mas de modos também sarcásticos, talvez para esconder a própria insegurança, principalmente quando percebe que pode perder a mulher para Servais.

A tática de Servais de levantar a autoestima de Nadine é concedê-la a chance de trabalhar em um papel importante de uma peça de Shakespeare. Para isso, ele consegue a ajuda de alguns amigos e também tem a coragem de fazer um empréstimo bancário para bancar a produção teatral. É um tiro no escuro, já que o sucesso da peça é imprevisível, muito por causa dos excessos do ator principal, vivido por Klaus Kinski, que interpreta uma espécie de homossexual aristocrata.

O filme adentra pouco no submundo dos filmes pornôs e das perversões, mas há algumas poucas cenas que servem para mostrar que elas estão presentes e fazem parte das vidas dos personagens. O que mais importa, como diz o título, é o amor. O amor de Servais por Nadine, de Jacques por Nadine, e o amor hesitante de Nadine por Servais. No primeiro momento, ela quer se entregar a ele através do sexo, mas ele rejeita, tem a intenção de ter um relacionamento sério e não uma simples transa que possa ser esquecida no dia seguinte.

Uma das marcas mais presentes em O IMPORTANTE É AMAR é a câmera nervosa de Zulawski, que persegue os personagens de perto, com frequência. Há também bastante uso de travellings de aproximação e distanciamento, conforme a intenção do sentimento a ser usado. Essa inquietude da câmera se confunde com a inquietude do drama dos personagens, embora muitas vezes fiquemos um pouco insatisfeitos com o modo como suas motivações pareçam estranhas. A falha do filme está principalmente em não saber desenvolver bem sua conclusão, que fica aquém de um trabalho que começa intrigante. E nem é pelo apelo à violência, comum aos filmes do diretor.

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