quinta-feira, fevereiro 18, 2016

A GAROTA DINAMARQUESA (The Danish Girl)



É difícil esperar que o combo Tom Hooper + Eddie Redmayne vá render coisa boa. Mas, por outro lado, temos a garota revelação do ano, Alicia Vikander, e um assunto interessante e curioso, o caso da primeira intervenção para mudança de sexo no mundo. A GAROTA DINAMARQUESA (2015) é uma história fictícia baseada nessa história real, ocorrida com um homem que teve um insight ao usar um vestido e ir a uma festa disfarçado de mulher por diversão com a esposa e depois passa a acreditar que sua vida até então, como homem, era uma farsa; que ele é, na verdade, Lili.

Claro que essa descrição poderia ser dita de outra maneira: mulher que vivia presa em corpo de homem finalmente encontra a liberdade depois que descobre seu verdadeiro gênero e passa a negar aquilo que nunca foi. Mas o filme, por mais que abrace também essa ideia aos poucos, torna o modo como vemos Einar/Lili mais como uma espécie de caso de esquizofrenia muito parecido com o visto em PSICOSE, de Alfred Hitchcock.

Até já ouvi dizer que algumas transexuais não gostam nenhum pouco dessa maneira de usar esse recurso da terceira pessoa para tratar o seu outro eu – ou seja lá como elas prefiram chamá-lo, pois também estamos em um tempo em que certos termos devem ser cuidadosamente usados. Hoje estamos mais avançados nessa questão, mas ainda engatinhando nos estudos de gênero. Até pelo fato de a maioria dessas pessoas terem uma vida muito reservada ou terem também muitos traumas pessoais, sem falar no preconceito que ainda sofrem da sociedade.

Em A GAROTA DINAMARQUESA, o casal de pintores Gerda (Alicia Vikander) e Einar (Eddie Redmayne) vive uma vida relativamente tranquila, ainda que não seja nada fácil viver de arte. Gerda, principalmente, só vai conseguir sucesso com seus retratos quando pede que o marido pose para ela com um vestido. A pintura é um sucesso e mais do tipo é encomendada para uma exposição em um museu de arte de Copenhague. Mas a verdadeira turbulência aconteceria na cabeça de Einar, que percebe de imediato, ao usar aquele vestido, o quanto sua feminilidade estava prestes a aflorar. E não vai ser fácil para os dois essa travessia.

Até por destacar esse embate interior o filme tem o seu grau de interesse, mas chega a ser incômodo o modo exagerado como Redmayne incorpora essa transformação, seja rejeitando seu órgão sexual masculino, seja aprendendo através do olhar o modo como uma mulher se comporta no gestual. Como uma criança que através da observação vai criando modelos a partir da imagem da mãe, do pai ou de um irmão ou irmã, Einar vai cada vez mais morrendo e deixando nascer Lili.

No mais, o filme também incomoda pela utilização cafona e exagerada da música e no modo exagerado como Redmayne expõe o drama. Por outro lado, Vikander tem uma personagem tão interessante, que não deixa de ser emocionante o diálogo final entre o (ex-)casal, que pode levar muitos espectadores às lágrimas.

A GAROTA DINAMARQUESA concorre ao Oscar nas categorias de ator (Eddie Redmayne), atriz coadjuvante (Alicia Vikander), figurino e desenho de produção.

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