quarta-feira, setembro 30, 2015

UM SENHOR ESTAGIÁRIO (The Intern)



Interessante como Robert De Niro se reinventou como ator de comédia a partir do finalzinho dos anos 1990, com MÁFIA NO DIVÃ, e teve bem poucos bons momentos no chamado cinema sério, ou cinema ligado aos filmes de gângster, que é como ele era geralmente associado, por causa principalmente de sua associação com Martin Scorsese. E não dá pra dizer que não deu certo.

UM SENHOR ESTAGIÁRIO (2015), de Nancy Meyers, está aí para provar mais uma vez que ele tem tino para o humor e ainda brinca com sua carreira pregressa, como na cena em que precisa arranjar um jeito de evitar que a mãe da personagem de Anne Hathaway leia determinado e-mail.

O novo trabalho de Meyers é mais do que o que se vende no trailer, que passa a ideia de que é uma comédia ligeiramente boba, ainda que estrelada por um par de astros tão bons quanto De Niro e Hathaway. Ambos já tiveram tempo mais do que suficiente para provarem seus talentos e aqui a química funciona muito bem. O único medo era de que UM SENHOR ESTAGIÁRIO sofresse de um excesso de fofura, o que dá para pensar lá pela metade do filme.

Porém, uma vez que somos tragados pelo drama dos personagens, que vamos nos aprofundando em seus problemas pessoais, esse exagerar na dose do açúcar acaba funcionando a seu favor no final, embora seja bem possível que alguns torçam o nariz pelo fato de o filme entrar sem medo no terreno do melodrama, que talvez seja o gênero que continua mais ligado à velha Hollywood, o que eu vejo como algo positivo.

UM SENHOR ESTAGIÁRIO convida o espectador para pensar também em várias situações do mundo contemporâneo, desde o modo como a sociedade digital rejeita a experiência dos mais velhos; passando pela vida complicada de uma mulher no mercado de trabalho, tendo que também ser boa mãe e boa esposa; e pela necessidade das pessoas de se sentirem-se úteis, mesmo estando aposentadas. No caso, há vários casos de pessoas que morrem logo que se aposentam, principalmente homens, pois não encontram mais nada que faça sentido na vida.

E é o caso de Ben, personagem de De Niro, um senhor viúvo que depois que perdeu a esposa já experimentou de quase tudo – viajou pelo mundo, teve casos com mulheres da sua idade, pratica atividade física –, mas que vê na possibilidade de recomeçar, ainda que como estagiário, aos 70 anos, uma chance de ver sentido na vida.

Ben sente um profundo respeito por sua nova patroa, Jules (Hathaway), uma jovem mulher que conseguiu em pouco tempo transformar uma pequena empresa em uma companhia de sucesso, uma loja dedicada a vender roupas femininas pela internet. Mas Jules é extremamente reservada e o fato de Ben ser bastante observador faz com que a relação dos dois seja um pouco difícil no começo, embora saibamos que aos poucos eles se tornarão amigos.

Aliás, o tema da amizade, que é tão bem-vindo em filmes, raramente lida com a amizade entre sexos opostos. Há casos como o de APENAS UMA VEZ e de MESMO SE NADA DER CERTO, ambos de John Carney, mas nesses filmes há uma tensão amorosa entre os protagonistas. No caso de UM SENHOR ESTAGIÁRIO, é uma amizade que se aproxima mais de uma relação entre pai e filha, até porque em nenhum momento o pai de Jules é citado.

Assim, depois de tantos filmes abordando o chamado bromance, desde os antigos trabalhos de Howard Hawks até as comédias recentes, temos, enfim, uma obra que lida com muita sensibilidade da relação de amizade entre um homem mais velho e mais seguro de si e uma forte empresária que está passando por uma crise no casamento. Ambos pintam para o mundo imagens de pessoas fortes, mas não é isso que a sociedade exige da gente? Não é assim que devemos nos portar, até para não desabarmos em algum momento? Nessas situações, um abraço de um grande amigo nos ajuda a seguirmos em frente, mais fortes e mais determinados.

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