domingo, setembro 06, 2015

SETE CURTAS E MÉDIAS-METRAGENS



Como o tempo urge e a quantidade de títulos para escrever para o blog anda se multiplicando feito preás, de vez em quando é preciso escrever sobre alguns filmes de maneira mais apressada. Se não fizer isso corro o risco de não escrever nada sobre eles. Resolvi selecionar, então, um grupo de curtas e médias-metragens vistos em tempos diferentes e de épocas diferentes para que possa tecer algumas rápidas considerações. Vamos lá.

BLACK MIRROR - WHITE CHRISTMAS

A série/antologia britânica BLACK MIRROR já é considerada uma das melhores da televisão de todos os tempos. Cada episódio de cerca de uma hora traz ideias tão fascinantes quanto perturbadoras, unindo ficção científica com horror. WHITE CHRISTMAS (2014, foto) foi um episódio especial que a emissora exibiu, como um presente para os fãs, no final do ano passado, mas eles bem que poderiam tê-lo incluído na terceira e próxima temporada vindora (esperamos que realmente venha). Há uma interessante ideia inspirada nos bloqueios que as pessoas fazem de seus desafetos no Facebook: no caso, uma mulher tem um equipamento que bloqueia o marido da sua vida e o que ele vê dela é só um borrão e o que ouve são só ruídos ininteligíveis. O homem fica desesperado. Há outra história igualmente perturbadora envolvendo uma mulher que acorda e descobre que é um clone preso nas mãos de um sujeito sádico (Jon Hamm). A coisa é muito pior do que eu conseguiria descrever, na verdade. É o tipo de episódio para se mostrar aos amigos e rever com frequência. Mantém o alto nível da série e resolvi incluí-lo no post pois o vejo como um média-metragem independente, embora no IMDB ele apareça numa suposta terceira temporada.

O BANQUETE (Feast)

Exibido antes da animação OPERAÇÃO BIG HERO, O BANQUETE (2014), de Patrick Osborne, até ganhou o Oscar de melhor curta em animação este ano, mas a Disney já fez curtas melhores. De todo modo, é um bonito filminho que mostra um cãozinho que adora comer e acaba se esbaldando com isso, por causa da alimentação desregrada do seu dono. Porém, certo dia o seu dono passa a namorar uma moça vegetariana e se assume também como vegetariano, dando ao pobre cão também só vegetais. O animal fica bastante aborrecido. O bonito do filme está no modo como é mostrado o quanto o cão ama o seu dono. Melhor não falar muito para não estragar a surpresa de quem ainda não viu. Acho que tem pra ver no youtube.

SUPEROUTRO

Tive o prazer de ver o média SUPEROUTRO (1989) na mostra Outros Cinemas deste ano, com a presença do diretor Edgar Navarro, que é uma figura e tanto, e estava tão disposto a conversar após a sessão que se recusou a encerrar a conversa no tempo sugerido. Estava curtindo muito estar ali e dizendo o quanto tem orgulho de seu filme. De fato, é um filme e tanto, que ganha nas revisões e possui algumas cenas que certamente ainda hoje escandalizam famílias, como o famoso close-up do protagonista defecando. É o tipo de estética que lembra o que o pessoal do cinema marginal fazia, só que feito num período mais comportado de nossa cinematografia. Com um discurso político mais do que interessante, antecipa e muito o desencanto que seria a nossa primeira experiência com um Presidente da República eleito com a redemocratização. E Navarro fez isso sem saber, como se tivesse antenas que captassem também o futuro. Bertrand Duarte, o protagonista, o mendigo que incorpora o tal SuperOutro, depois faria ALMA CORSÁRIA, de Carlos Reichenbach, também realizado em um período atípico de realizações cinematográficas no Brasil.

JORNADA AO OESTE (Xi You)

Mais um média especial, mas que curiosamente, ao contrário dos demais, ganhou exibição paga no circuito, apesar da duração inferior aos 60 minutos. JORNADA AO OESTE (2014), de Tsai Ming-Liang, é mais um exercício de paciência para o espectador, depois da experiência radical de CÃES ERRANTES (2013). O filme apresenta mais uma vez Kang-sheng Lee no papel de um monge que anda vagarosamente, na contramão da sociedade de consumo que corre nas ruas como se fosse tirar o pai da forca. Assim, em "câmera lenta", ele é seguido pacientemente por um discípulo, vivido por Denis Lavant. O segredo para gostar de JORNADA AO OESTE é estar com predisposição a ver um filme que o desafia constantemente. E tentar a todo instante acalmar o espírito. Pode fazer muito bem, inclusive.

KUNG FURY

Este filme é tão inacreditável que mal contemos o entusiasmo. KUNG FURY (2015) é uma homenagem à década de 1980, tanto aos videogamos quanto ao próprio espírito da época – os filmes de ação, as roupas, a tecnologia, as séries de TV etc. Na história, Kung Fury, vivido pelo próprio diretor David Sandberg, é o mais invocado lutador de artes marciais de Miami, e a ele é entregue o serviço de voltar no tempo para matar o maior criminoso de todos os tempos, Kung Fuhrer Hitler. Impossível não rir em diversos momentos, seja pela graça da trama, seja pelos absurdos. Acabou virando coqueluche na internet, depois de uma exibição em Cannes. Sensacional.

ZERO DE CONDUTA (Zéro de Conduite - Jeunes Diables au Collège)

Jean Vigo é um dos cineastas franceses mais cultuados de todos os tempos, mesmo tendo pouquíssimos filmes no currículo. Este média (de 41 minutos), ZERO DE CONDUTA (1933), é um deles. Serviu de inspiração para muitos diretores que viriam a trabalhar com crianças. Os meninos no filme são especialmente anárquicos, o que combina com o próprio registro de ZERO DE CONDUTA, que parece uma obra que se recusa a obedecer a regras narrativas, embora não seja exatamente classificado como experimental ou algo do tipo. Mas a conduta dos meninos e o modo como o diretor e o espectador os apoia parece ser bastante representativo de um posicionamento político que só deve ser plenamente entendido uma vez que saibamos mais da vida e da obra de Vigo. Um dia pretendo revisar esta obra, bem como os outros trabalhos dele, mas de posse de mais conhecimento.

NE PAS PROJETER

Ver o trabalho de um amigo não é sempre fácil, principalmente quando vamos escrever a respeito, mas não dá para negar que o curta NE PAS PROJETER (2015), de Cristian Verardi, é um trabalho bastante inventivo, que, ao mesmo tempo que homenageia filmes de horror que utilizam o gore (difícil não lembrar de Lucio Fulci), é também cinema sobre o amor ao cinema, sobre a influência dos filmes sobre a gente, sobre ser tragado por eles e amá-los acima de tudo. Na história, um projecionista encontra um misterioso rolo de filmes no cinema em que trabalha. O filme, apesar de ter sido apresentado em "carreira solo" no Festival de Gramado, compõe o longa em segmentos 13 HISTÓRIAS ESTRANHAS, que espero poder ver integralmente em breve.

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