O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA (Journal d’une Femme de Chambre)
Do mesmo diretor do ótimo ADEUS, MINHA RAINHA (2012) e de 3 CORAÇÕES (2014), que deve ser exibido no Cinema de Arte em breve, O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA (2015) é mais uma boa adaptação da obra de Octave Mirbeau. A mesma que já foi adaptada em 1946 por Jean Renoir e em 1964 por Luis Buñuel. Perguntado sobre por qual dos dois (grandes) autores ele teria se inspirado para fazer o seu trabalho, o diretor Benoît Jaquot afirmou ter tentado fazer sua própria versão, pensando apenas no romance. Pode-se dizer que ele foi feliz em sua adaptação, até por poder contar mais uma vez com Léa Seydoux no papel principal. Como bem falou um amigo meu em homenagem à atriz, ela parece ter nascido para esses papéis de época, especialmente quando se mostra ao mesmo tempo recatada e fogosa. Em O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA ela é Célestine, uma jovem que, por força das circunstâncias, torna-se uma empregada doméstica de uma família rural. Ela odeia aquilo. Odeia principalmente sua patroa sádica. Há algumas cenas que são saídas de sonhos dela. Outras nos deixam na dúvida. É um filme que cresce à medida que pensamos nele, além de ser cheio de grandes momentos. Destaque também para Vincent Lindon, grande ator, que mais uma vez rouba as cenas em que aparece. Seu papel é importante para dimensionar a obra num período em que a sociedade europeia alimentava o ódio antissemita.
HIPÓCRATES (Hippocrate)
Basicamente um filme sobre o início da vida de médico, HIPÓCRATES (2014), de Thomas Lilti, se revela também uma bela obra sobre a amizade e a cumplicidade. Vincent Lacoste (que aparece em um papel pequeno, mas marcante, em O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA) é Benjamin, filho do dono de um hospital que está dando início a suas primeiras experiências práticas na área médica. Sentimos uma certa aflição, por exemplo, ao vermos o personagem tentando efetuar uma punção lombar em um paciente. Abdel (Reda Kateb) é o sujeito que chega para salvar a pátria do paciente, mas também para deixar Benjamin desconcertado. Ele percebe que aquele imigrante ali tem muito mais experiência e segurança que ele, que ainda nem sabe direito se quer ou não ser médico. Divertidos os momentos em que os jovens médicos de plantão assistem HOUSE na TV. Trata-se de um filme de narrativa bem simples, clássica, mas bastante eficiente na construção dramática, em especial quando se aproxima do final e vemos a aproximação dos dois protagonistas em situações no mínimo perturbadoras para iniciantes.
GEMMA BOVERY - A VIDA IMITA A ARTE (Gemma Bovery)
Fico me perguntando o que seria de GEMMA BOVERY – A VIDA IMITA A ARTE (2014, foto), de Anne Fontaine, se não fosse a beleza, a sensualidade e o carisma de Gemma Arterton. Aliás, não pesquisei, mas o filme, a julgar pelo próprio título, foi feito para que a atriz inglesa brilhasse. E ela brilha como em nenhum outro filme, como uma espécie de versão contemporânea da personagem trágica de Gustave Flaubert. Ela faz o papel de Gemma, moça casada com um sujeito chamado Charles (Jason Flemyng). O nome do casal chama a atenção do francês apaixonado pela obra literária, interpretado por Fabrice Luchine, no papel aqui de um padeiro local que fica especialmente interessado na vida de Gemma, que, a seu ver, parece ter tudo para repetir os feitos da personagem literária, a começar por uma ou duas traições, que culminariam em sua morte. GEMMA BOVERY equilibra bem a comédia e o drama, mas o que fica mesmo na memória é Gemma Arterton, que faz com que mendiguemos cada parte de seu corpo a todo momento, como fez um tempo atrás Claudia Cardinale em O LEOPARDO, de Luchino Visconti.
SAMBA
Depois do sucesso popular de INTOCÁVEIS (2011), Eric Toledano e Olivier Nakache estão de volta, novamente contando com o carisma e a simpatia de Omar Sy, que interpreta o personagem título, um homem de Senegal que se encontra em situação ilegal na França. É em uma de suas prisões que ele conhece uma mulher (Charlotte Gainsbourg) que lhe dá carinho e atenção, ainda que com seu jeito reservado e um tanto desajeitado. Aliás, ambos são desajeitados e isso acaba por torná-los mais simpáticos ao espectador, embora o filme não consiga aprofundar muito bem seus personagens. SAMBA (2014) é um feel good movie que também tem algo de amargo em alguns momentos. E isso depõe a seu favor, compensando suas falhas (o final é bem problemático). Os diretores quase acabam desperdiçando o bom material que têm, os bons personagens que têm. Se Omar Sy não estivesse ali para salvar a pátria nem sei o que seria do filme. Ainda assim, é um desses trabalhos tão agradáveis de ver que é preferível relevar seus deslizes.
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