segunda-feira, dezembro 06, 2010

A REDE SOCIAL (The Social Network)



As comparações entre CIDADÃO KANE, de Orson Welles, e A REDE SOCIAL (2010), novo trabalho de David Fincher, que têm aparecido em várias críticas sobre o filme, têm a sua razão de ser. Há muitos pontos em comum entre as duas obras e provavelmente essa tenha sido a intenção de Fincher, quase sempre um cineasta pretensioso. Mas quando falo pretensioso, falo no bom sentido. Suas ambições são louváveis na maioria das vezes. Mas em A REDE SOCIAL até que ele se mostra bastante contido nos aspectos formais, sem o uso de efeitos especiais tão explícitos, como em O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008) e O QUARTO DO PÃNICO (2002), aproximando-se, assim, mais da discrição de ZODÍACO (2007).

Mas talvez o que mais cause interesse em A REDE SOCIAL seja sua temática, principalmente para quem testemunhou há cerca de dez anos o surgimento e a popularização do Napster, o programa de compartilhamento de arquivos que veio para derrubar a indústria fonográfica. De lá pra cá, as coisas nunca mais foram as mesmas. E ainda que o criador do programa apareça no filme em papel de destaque na pele de Justin Timberlake, o filme é mesmo de Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), criador do Facebook, o programa de relacionamentos mais poderoso do mundo.

A REDE SOCIAL não é um filme sobre o Facebook, mas sobre Zuckerberg, esse sujeito pouco sociável que usa um fora da namorada para criar, sem querer, o embrião para o seu projeto mais importante. Ele escreve, bêbado, em seu blog, coisas pouco lisonjeiras sobre a moça que quebrou seu coração e cria um site com um ranking das mais gostosas do campus para votação. Só com esse ato, ele consegue em pouco tempo derrubar a rede da universidade, pela quantidade de acessos. É assim que ele chama a atenção dos gêmeos Winklevoss (ambos interpretados por Armie Hammer). Ele representam o oposto de Zuckerberg: atléticos, populares e milionários. A intenção dos irmãos é fazer um programa de relacionamento fechado à elite da universidade. A opção por deixar de trabalhar com os irmãos e criar o seu próprio site junto ao amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) é o motivo pelo qual o nerd pouco sociável e de raciocínio rápido recebe a sua primeira ação judicial.

Estruturado num longo flashback e com uma dinâmica impressionante para um filme que fala sobre programas de computador, ações judiciais e centrado numa pessoa com problemas de socialização, A REDE SOCIAL é o filme mais maduro de Fincher. E embora não cause arroubos sentimentais como seu trabalho anterior, nem polêmica como CLUBE DA LUTA (1999), o olhar distante de Zuckerberg passa um sentimento amargo de profunda solidão e uma sensação de total desapego com tudo e com todos.

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