terça-feira, novembro 18, 2008

ROMANCE



Depois de cinco anos longe da direção de longas-metragens e se dedicando mais à produção, Guel Arraes retorna com um trabalho que se pretende dar uma guinada em sua carreira no cinema: ROMANCE (2008), uma obra bem diferente das comédias de estética televisiva que o tornaram famoso. Quando Arraes picotou a sua mini-série O AUTO DA COMPADECIDA (1999) para transformá-la em filme em 2000, muita gente reclamou. E com razão, já que, além de ter tirado seqüências bem divertidas, como a do gato que "descome" dinheiro, a versão condensada de O AUTO DA COMPADECIDA tomava o espaço de filmes inéditos, garantindo, ainda por cima, semanas em cartaz graças ao sucesso de bilheteria. Não feliz em efetuar esse tipo de ato, Arraes acabou repetindo o feito com a mini-série A INVENÇÃO DO BRASIL (2000), que tinha partes bem interessantes dirigidas por Jorge Furtado e que foram retiradas da versão para o cinema, que ganhou o título CARAMURU – A INVENÇÃO DO BRASIL (2001). Aí veio o realmente inédito LISBELA E O PRISIONEIRO (2003), cuja trilha sonora também foi destaque, em especial, a versão de Caetano Veloso para "Você não me ensinou a te esquecer", de Fernando Mendes. Sem dúvida, uma versão belíssima e que flerta com o brega de maneira elegante como poucos artistas conseguem fazer. Acontece que a canção tocava demais durante o filme, o que enchia o saco.

Felizmente, em ROMANCE, isso não ocorre. Caetano volta, dessa vez também como diretor musical numa produção de sua ex-esposa Paula Lavigne, com a bela canção "Nosso estranho amor", usada uma única vez durante o filme e num dos momentos mais belos: o da separação do casal vivido por Wagner Moura e Letícia Sabatella. Outro nome bem vindo ao filme é o de Jorge Furtado, que assina a quatro mãos o roteiro com Arraes. É talvez de Furtado que tenha saído as melhores tiradas, os melhores diálogos do filme. Posso até estar errado e estar subestimando a capacidade de Arraes, mas de uma coisa eu posso dizer com convicção: por mais que ele procure se afastar da estética televisiva e valorizar dessa vez os planos-seqüência, falta a ele uma maior sensibilidade na direção ou uma maior capacidade de manipular os sentimentos do espectador de maneira sutil. Seus filmes, por mais românticos que tentem ser, não conseguem sair dos racionalismos. E racionalizar, em alguns momentos do filme é interessante, como nas cenas em que os dois amantes discutem no palco a natureza da paixão como sofrimento, o amor recíproco infeliz, como em "Tristão e Isolda", a estória do século XII que serviu de modelo para "Romeu e Julieta", de Shakespeare, e para tantas outras estórias de amor. Essas discussões são os pontos altos do filme. No entanto, quando Guel Arraes, pretende fazer algo mais emotivo, simplesmente o filme não funciona.

O que acaba sendo o forte de ROMANCE são as interpretações. As de Moura e Sabatella são quase teatrais, causando às vezes uma agradável sensação de artificialismo e estranheza. Mas não se pode deixar de mencionar a ótima performance de Andréa Beltrão e o talento cômico de Vladimir Brichta, o segundo casal de amantes do filme. Andréa é impressionante. Ela já tinha me emocionado numa cena de interpretação explícita e metalingüística em JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho, e dessa vez ela volta ao estilo que a consagrou: a comédia. Acho que eu já era fã do trabalho dela desde criança, quando a via na televisão no divertido seriado ARMAÇÃO ILIMITADA. E tem também as participações sempre bem vindas de Marco Nanini e José Wilker. No mais, o filme é tão morno quanto a idéia requentada do protagonista de refilmar "Tristão e Isolda" no sertão da Paraíba.

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