quinta-feira, novembro 06, 2008

O ESTRANHO SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS / O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (Non si Sevizia un Paperino / Don't Torture a Duckling)



Fazia tempo que não via um filme de Lucio Fulci. Percebi que o mais marginal dos grandes diretores de filmes de gênero italianos estava sendo marginalizado até por mim, em detrimento de Bava e Argento. E nada como retomar a sua obra com um de seus mais festejados títulos: DON'T TORTURE A DUCKLING (1972), que aqui no Brasil ganhou um título estranho quando lançado em poucas salas do país nos anos 70. Ainda assim, procurando na internet sobre qual o exato título nacional, acabei encontrando essas duas variações. Logo, além de o título não ser muito adequado ao filme, melhor mesmo é tratar a obra pelo seu título mais conhecido: o internacional.

DON'T TORTURE A DUCKLING é estrelado pela cearense Florinda Bolkan, que durante os anos 60 e 70 trabalhou em diversas produções italianas, tendo sido, inclusive, dirigida por cineastas de renome, como Luchino Visconti - que foi quem a descobriu -, Vittorio de Sica e Elio Petri. Mas os fãs do cinema de gênero lembram da atriz principalmente pela dobradinha que ela fez com Lucio Fulci: UMA LAGARTIXA EM PELE DE MULHER (1971) e o mais polêmico e famoso DON'T TORTURE A DUCKLING, que rendeu ao diretor até mesmo a fama de excomungado pela Igreja Católica, por colocar o padre do filme como vilão e ainda por cima mostrar o seu castigo numa cena de violência gráfica impressionante e, para mim, inédita na forma como foi orquestrada.

O filme lida com o assassinato de diversas crianças, justamente as crianças que zombam da personagem de Bolkan no início e que têm o hábito de espiar o encontro dos adultos com as prostitutas. Bolkan aparece praticando magia negra, enquanto as crianças vão aparecendo mortas misteriosamente. As crianças são aparentemente bem cuidadas pelo padre da cidadezinha, localizada no sul da Itália. Outra personagem de destaque é vivida pela belíssima Barbara Bouchet, cuja primeira aparição no filme é memorável: ela aparece nua, recebendo uma bebida de um garoto, que fica constrangido com sua nudez e o modo desavergonhado e sensual com que ela o trata. O menino fica com um misto de insegurança e tesão pela mulher. Ela também é uma personagem misteriosa e uma das possíveis suspeitas do assassinato das crianças.

Considerado um giallo pelos especialistas, o filme se mostra mais do que um terror ou suspense sanguinolento, mexendo também com magia negra. Como é comum no trabalho de Fulci, a utilização do vulgar mesclado com o sofisticado é encontrada em plena forma. A cena da tortura da personagem de Bulkan pelos pais das crianças está entre os momentos mais belos do filme, pois conta também com o auxílio de uma belíssima canção – "Quei Giorni Insieme a Te", interpretada por Ornella Vanoni. Como acontece em muitos trabalhos de Argento e do próprio Fulci, o belo e o grotesco andam de mãos dadas de forma genial. Pra completar, a trilha sonora do filme é de Riz Ortolani, o mesmo compositor da trilha de CANNIBAL HOLOCAUST.

Agradecimentos especiais a Carlão Reichenbach, que foi quem me forneceu a cópia dessa maravilha.

P.S.: Finalmente vi a entrevista de David Lynch para o Roda Viva. Um pouco decepcionante, no geral, mas como não é todo dia que vemos Mr. Lynch passeando pelo Brasil e dando entrevistas a torto e a direito, ainda que falando principalmente sobre meditação transcendental, foi uma oportunidade de ouro poder assistir a esse mais do que especial Roda Viva. Houve alguns momentos constrangedores, como aquele em que a Lilian Witte Fibe diz que ele não gostou de TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER e ele deixou bem claro que adorou ter feito o filme. Agradeço de coração à Bia, que muito gentilmente fez a cópia da entrevista pra mim.

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