terça-feira, maio 27, 2008

SHOW DE FERNANDA TAKAI - TURNÊ DE 'ONDE BRILHEM OS OLHOS SEUS'



Sei que já são quatro dias sem atualizar o blog, mas uma série de coisas têm contribuído para isso, como o trabalho, o cansaço, a prova de concurso no domingo e mais trabalho. Ontem, mais uma vez, tive de lidar com esse sentimentozinho incômodo que é a culpa, ao faltar aula para ir ao show da Fernanda Takai na Concha Acústica. Puxa, uma das poucas cantoras brasileiras que eu realmente gosto vem a Fortaleza para um show gratuito de um disco que eu venho escutando continuamente, eu não podia perder. A culpa é da organização do festival, que foi agendar o show da Takai logo para uma segunda-feira. (Isso a gente chama de transferência de culpa, e eu aprendi nos filmes do Hitchcock.) E somada à minha racionalização de que "eu mereço", resolvi cometer esse pequeno "pecado" sem me sentir assim tão culpado, embora eu saiba que a culpa esteja lá, escondidinha, pronta para me atacar. (Acho que preciso ver uns filmes do Abel Ferrara para exorcizar essas culpas bobas.) Falemos do show, então.

O show da Fernanda seria mais apropriado para um teatro, que é como vem sendo exibido Brasil afora. A certa hora do espetáculo, a cantora falou isso, mas gostou do entusiasmo do público e ficou feliz por saber que um show tão intimista podia ficar "quente", e dizendo que acredita que nunca Caetano ou Gil viram "Lindonéia" ser cantada em uníssono por tantas pessoas. Realmente estava lotado o lugar. Nessa hora, desejei que o show fosse pago, para pelo menos diminuir um pouco a quantidade de pessoas. Muita gente, muito barulho e muito calor juntos costumam me incomodar. Mas quando chegamos, eu e a Erika, cedinho, por volta das sete horas, estava tudo muito tranqüilo. Sentamo-nos na segunda fileira e não esperávamos que a organização do evento fosse permitir que entrasse tanta gente. Antes de a Fernanda entrar, vimos uma apresentação de maracatu e uma tentativa frustrada de um coral se apresentar naquele ambiente pouco recomendável. Como eu já participei de um coral, sei o quanto é necessário silêncio, uma acústica adequada e pessoas interessadas e respeitosas para ouvir. E nada de microfones. Coral com microfones não funciona.

Quando a Fernanda adentrou o palco, boa parte da turma já tinha chegado. Encontramo-nos por acaso com o Manoel e depois chegaram a Valéria, a Juliana, a Elis e a Marcélia. Não me lembro exatamente com qual canção Fernanda abriu o show. Acho que foi com a sombria "Luz Negra", mas não tenho certeza. Além dos patofuenses John Ulhôa (genial na guitarra) e Lulu Camargo no teclado, a banda contou ainda com um contrabaixista e um baterista contratados que mandaram muito bem. Quando a banda começou a tocar "Diz que fui por aí" naquele arranjo lindo, não resisti e tentei me aproximar o máximo possível do palco para tirar uma foto, adentrando a massa de pessoas, muitas delas, cantando num misto de alegria e melancolia essa canção. "Diz que fui por aí" virou o grande hit do disco ONDE BRILHEM OS OLHOS SEUS, que pra quem não sabe partiu de uma idéia de Nelson Motta - que via a Fernanda como a Nara Leão dos dias atuais - e produzido pelo maridão John Ulhôa.

Infelizmente, devido aos poucos recursos destinados ao show, não foi possível trazer o belo cenário que vem sendo utilizado na turnê nacional. Mesmo assim, o básico da festa estava lá: a cantora e a banda. E como não se arrepiar ao ouvir "Insensatez", de Vinicius e Tom, e "Descansa Coração", talvez a minha preferida do disco? Entre as surpresas da noite, isto é, as canções que não fazem parte do disco, destacam-se "Ordinary World", do Duran Duran (que é uma banda explicitamente querida de Fernanda), "Ben", do Jackson Five, e "Esconda o Pranto num Sorriso", de Evaldo Braga, faixa presente no álbum EU NÃO SOU CACHORRO MESMO, projeto dedicado a recriações de canções do universo brega. Uma pena ela não ter cantado "O Divã", do Roberto Carlos, que esteve presente no set list de alguns shows por aí, mas talvez o ambiente festivo local não fosse mesmo adequado para essa canção, que eu considero uma das mais tristes de toda a música brasileira.

O bis fechou com "Sirimbó Carimbó", que eu particularmente não aprovei, acho uma canção de "mau gosto", e uma versão em japonês de "O barquinho", faixa bônus da edição nipônica do disco, mas que eu já conhecia, graças à internet. No final, saí com uma dor de cabeça chata - coisa de cearense, esse negócio de cabeça chata -, mas bastante satisfeito com o show.

P.S.: Dedico esse post ao canceriano Sydney Pollack, cineasta que partiu para o "outro lado" ontem, aos 72 anos de idade. Pollack, embora não tenha sido um diretor regular, deixou pelo menos dois grandes filmes: ESTA MULHER É PROIBIDA e MAIS FORTE QUE A VINGANÇA. Como ator, como esquecer de sua paticipação memorável em DE OLHOS BEM FECHADOS, de Stanley Kubrick? Recentemente, também brilhou nos poucos momentos que apareceu no recente CONDUTA DE RISCO.

Nenhum comentário: