sexta-feira, fevereiro 23, 2007

PAIXÃO DE FORTES / PAIXÃO DOS FORTES (My Darling Clementine)



Ontem tive o prazer de conferir um dos mais festejados trabalhos de John Ford. PAIXÃO DOS FORTES (1946) - ou PAIXÃO DE FORTES, como saiu em DVD pela Fox - é um desses filmes que beiram à perfeição, tendo momentos de pura poesia e desempenhos brilhantes dos dois atores principais, Henry Fonda, no papel de Wyatt Earp, e Victor Mature, como Doc Holliday. Os dois personagens são duas lendas americanas e o momento crucial do filme é justamente o famoso tiroteio em Ok Corral.

O filme de Ford não tem nenhum compromisso com a verdade e traz várias modificações na história dessas duas lendas. Na vida real, Old Man Clanton, o homem que lutou contra Earp e Holliday, morreu várias semanas antes do tal tiroteio. Não lembro como Lawrence Kasdan contou essa história em seu ótimo WYATT EARP, mas provavelmente deve se aproximar mais do que realmente aconteceu. PAIXÃO DE FORTES nos apresenta Earp (Henry Fonda) como um caubói que, à procura de um lugar para suas vacas descansarem, vai parar na cidade de Tombstone, Arizona. Mal sabia ele que, ao parar naquela cidade, seu rebanho seria roubado e seu irmão seria assassinado. Sem ter muito o que fazer e já tendo experiência como xerife em outra cidade, ele aceita o emprego de xerife de Tombstone, depois de ter demonstrado força e coragem ao dar de cara com um índio bêbado e violento num saloon. Em Tombstone, ele conhece o famoso Doc Holliday (Victor Mature), um médico que se tornou um temido pistoleiro. Surge um triângulo amoroso quando chega na cidade Clementine (Cathy Downs), um antigo amor de Holliday que de imediato balança o coração de Earp.

Se o filme já se mostrava vigoroso nos seus quarenta minutos iniciais, o surgimento de Clementine o torna carregado de poesia. O que dizer da cena em que Doc Holliday tenta explicar para Clementine que ele não é mais o mesmo homem?, ou quando Wyatt Earp caminha ao lado dela enquanto vão para uma festa na igreja semi-construída? PAIXÃO DE FORTES é um western que tem um andamento calmo e contemplativo e, ao mesmo tempo, um pouco sombrio. Foi o primeiro filme em que Ford utilizou cenas que não acrescentam nada ao enredo, como aquela em que Fonda balança-se na cadeira, com o pé encostado a um poste.

A presença de Victor Mature no papel de Doc Holliday foi escolha do produtor Darryl Zanuck. Ford preferia um ator mais magro para o papel, como Douglas Fairbanks Jr. ou Vincent Price, mas não conseguiu convencer Zanuck. Mesmo assim, o aspecto de homem forte de Mature não chegou a atrapalhar o fato de o seu personagem estar com tuberculose e em processo auto-destrutivo. Quanto a Henry Fonda, o cara é fantástico e personifica o homem de bem como ninguém. Não foi à toa que Sergio Leone, quando o escolheu para interpretar o grande vilão de ERA UMA VEZ NO OESTE, surpreendeu a todos com sua escolha.

PAIXÃO DE FORTES foi o segundo filme de Ford depois de ele ter voltado da guerra. O primeiro - FOMOS OS SACRIFICADOS (1945), produzido também por Zanuck e totalmente ligado ao conflito - continua inédito em vídeo no Brasil. PAIXÃO DE FORTES é um remake de A LEI DA FRONTEIRA (1939), do pioneiro diretor Allan Dwan. Curiosamente, o ator que faz o índio bêbado é o mesmo nos dois filmes.

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