terça-feira, maio 09, 2006

MENTIRAS SINCERAS (Separate Lies)



Ver filmes no Cine São Luiz é sempre um acontecimento pra mim. Desde que o SESC assumiu a direção da sala (em agosto/2005) que eu não tinha pisado mais lá. Para minha alegria, o SESC está cuidando muito bem do lugar. Tudo parece limpo e as cadeiras parece que foram todas reformadas. A qualidade da projeção está muito boa e o som também está bem legal. Só o ar condicionado que continua não tendo a potência devida para uma sala daquele tamanho. Mas isso nem foi um problema, já que Fortaleza está menos quente nesses dias chuvosos. Outra coisa que eu achei bem legal lá foi o preço da pipoca e do refrigerante. Custam bem mais barato que aquele assalto que é o preço nas bombonieres dos cinemas UCI. Infelizmente, pouca gente está indo prestigiar a sala. Só havia uns poucos gatos pingados ontem, na sessão de MENTIRAS SINCERAS (2005). Mas tudo bem. Era segunda-feira à noite no Centro da cidade. Não dá pra querer muita gente no cinema mesmo. Por mais que seja o cinema mais barato da cidade, quem não tem carteira de estudante ainda tem que desembolsar sete reais, que pode não ser nada para muita gente, mas que para o público médio frequentador da sala é uma quantia bastante considerável.

Eu gostei bem mais do que esperava de MENTIRAS SINCERAS. O filme começa parecido com um suspense de Claude Chabrol para acabar como um melodrama sobre a dor de ser corno. Claro que um melodrama à maneira inglesa, com as emoções contidas, o que só aumenta a dor do personagem de Tom Wilkinson. Um dos chamarizes do filme pra mim foi a presença de Emily Watson, atriz de que eu gosto muito e que, apesar de não ser bonita, tem um charme todo especial.

Na trama, um senhor andando de bicicleta é atropelado e morre durante o acidente. Mais tarde ficamos sabendo que esse senhor era marido da faxineira do casal Emily Watson-Tom Wilkinson. O pivô da história de traição é o personagem de Rupert Everett, que está com uma aparência meio cadavérica nesse filme. Seu personagem também é bastante estranho. A própria personificação do blasé. Por isso, Everett é um dos pontos baixos do filme. Ainda bem que ele aparece pouco. Sobre a trama, não dá pra contar muita coisa, pois o ideal é ver o filme sabendo o mínimo possível, vendo os acontecimentos se desenrolando aos poucos, as investigações em torno do acidente, em que circunstâncias ele ocorreu e o que acontece com os envolvidos.

MENTIRAS SINCERAS é a estréia na direção de Julian Fellowes, mais conhecido como o roteirista de ASSASSINATO EM GOSFORD PARK (2001), de Robert Altman, e FEIRA DE VAIDADES (2004), de Mira Nair. Apesar de nem todo mundo ter gostado desses filmes, já dá pra perceber que Fellowes é um bom narrador do modo de vida inglês. Agora na direção, vê-se que ele é um expert, mostrando os ingleses se relacionando com certo distanciamento, suas reuniões mornas, seus chás-das-cinco, seus jogos de críquete. E ele faz tudo isso sem tornar o filme chato. Ao contrário, o filme é bastante envolvente. Tão envolvente quanto um bom filme de Claude Chabrol, misturado com um pouco de Jane Austen e mais um tanto de Douglas Sirk.

O que eu achei mais bonito no filme foi o amor devotado de Tom Wilkinson à mulher, sua dor de cotovelo, sua tentativa de manter a rotina diária apesar de todo o inferno que se tornou sua vida. Como o filme é narrado pelo ponto de vista dele, é fácil a gente se identificar um pouco com o personagem. Claro que os mais afoitos irão achá-lo um "bunda mole", um corno manso, mas o pessoal do bairro Conjunto José Walter já sabe que esse negócio de ser corno valente não dá certo (piada interna).

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