terça-feira, novembro 23, 2004

RESPIRO



Uma experiência bastante prazeirosa assistir esse belo filme de Emanuele Crialise. RESPIRO (2002) conta a história de Grazia, interpretada magnificamente por Valeria Golino. Grazia é como uma ovelha negra em sua comunidade, situada numa ilha italiana pobre e que vive da pesca. Sua personalidade forte, suas várias brigas com suas colegas de trabalho, sua vontade de viver com paixão, de maneira exagerada, quase aproximando-se de uma maníaco-depressiva, incomoda a comunidade - principalmente quando ela, literalmente, solta os cachorros.

Engraçado que esse conceito de ovelha negra não tinha me ocorrido quando eu vi o filme, mas ao ler uma entrevista do diretor ao lado de Valeria Golino, em que ele dá ênfase a essa idéia, lembrei do que Osho falou sobre o rebelde ser o sal da Terra, de ser o diferencial dentro da mesmice da sociedade, de ser o catalizador para que as pessoas possam acordar de suas vidas automatizadas. Lembrei também da parábola do filho pródigo, em que no final o pai valoriza mais o filho rebelde do que o filho bem-comportado. RESPIRO conta uma história que já se repetiu algumas outras vezes: de pessoas que surgem no mundo, incomodam muita gente, morrem, para em seguida se tornarem santas.

Outra coisa que gostei na entrevista de Emanuele Crialise é quando ele fala que nem ele mesmo tem as respostas para os mistérios do filme, que quando ele faz um filme, ele sabe apenas uns 70% do que está acontecendo de fato, preferindo deixar no ar esse mistério. Como se ele soubesse que não tem controle sobre a vida. Ele até pode ter algum controle, mas no final, as coisas vão acontecer naturalmente. Ao mesmo tempo, em alguns momentos o filme deixa no ar um clima de sonho. No final do filme, exemplo claro desse estado onírico, fiquei sem entender direito o que aconteceu, mas gostei assim mesmo.

RESPIRO é um filme que funciona em dois níveis, mas nem me interessei tanto assim em ir atrás dos simbolismos, do que pode estar escondido abaixo das primeiras camadas. Apenas ver o filme, se deixar levar por suas imagens, pelo ritmo cadenciado, pela beleza selvagem de Valeria Golino, já foi suficiente pra mim.

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