quinta-feira, junho 10, 2021

FESTA DE CASAMENTO (The Wedding Party)



Antes de MURDER À LA MOD (1968) e QUEM ANDA CANTANDO NOSSAS MULHERES (1968), Brian De Palma já havia dirigido, junto com Wilford Leach, seu professor de teatro, e Cynthia Munroe, sua amiga, a comédia FESTA DE CASAMENTO (1969), que, apesar desta data de lançamento, já havia sido finalizado anos antes. No IMDB consta que foi rodado em 1963, mas no livro Brian De Palma's Split-Screen, consta que o filme foi rodado entre o inverno de 1964 e o verão de 1965. Acredito que o livro seja mais preciso. De todo modo, foi um filme que ficou engavetado por não conseguir nenhum distribuidor. Só foi lançado depois do sucesso de QUEM ANDA CANTANDO NOSSAS MULHERES e por isso o cartaz já apresenta os nomes em destaque de Robert De Niro e Jill Clayburgh. 

FESTA DE CASAMENTO já mostra o talento do cineasta em um tema que seria posteriormente abordado, o medo. Se no filme sobre os amigos de 1968, há o medo de entrar no exército, aqui temos o medo do noivo, Charlie (Charles Pfluger), de se casar. Ao passar uns dias na ilha onde fica a rica mansão de sua noiva, pouco antes da data do casamento, o sentimento de insegurança sobre o casamento passa a persegui-lo. Seus dois amigos, vividos por De Niro e William Finley, no começo, colocam em sua mente a semente da dúvida sobre se o casamento seria a coisa certa a fazer. Aos poucos, ele mesmo vai começando a achar que entraria numa espécie de prisão à medida que vai conhecendo a família da noiva Josephine (Clayburgh).

Há homenagem ao cinema mudo, semelhante a um filme de Mack Sennett , nas primeiras imagens, o que chega a ser impressionante para um primeiro filme feito com poucos recursos. Sem falar que De Palma e seus dois codiretores lidam com um elenco bem grande, o que não deve ter sido fácil. Quanto à vontade de mostrar capacidade de direção, nào se trata apenas de usar a técnica de fast e slow motion, mas há também freeze-frame, jump cuts (homenagem aos filmes de Godard), intertítulos, diálogos improvisados, digressões narrativas e piadas mais estranhas do que exatamente engraçadas. Se bem que a cena da avó da noiva tentando barrar Charlie de ficar no quarto com Josephine é bem divertida.

Mas o filme é irregular, sendo a primeira meia hora muito divertida, depois vai ganhando uma barriga lá pelo meio e vai se recuperando perto do final. No terceiro ato, gosto da cena de Charlie bêbado, tentando se aproximar da cunhada. E, posteriormente, dessa mesma cunhada se mostrando interessada em Charlie, mas não querendo que as pessoas notem. "Feche a porta", ela diz, ao entrarem no quarto dela. Ele prefere deixar a porta aberta, talvez para sabotar o casamento, talvez por ter dúvida sobre a ideia de ficar com a cunhada.

A ideia do filme nasceu quando De Palma, Munroe e outros três amigos queriam fazer um projeto coletivo semelhante a O AMOR AOS VINTE ANOS, cujo curta mais famoso hoje é o dirigido por François Truffaut. Porém, quando De Palma viu o roteiro de Munroe, percebeu que era muito bom (melhor que o dele) e que seria melhor usá-lo como base para um longa. Um longa que demorou a ser visto pela plateia, mas que acabou fazendo história por apresentar as estreias do diretor, de De Niro (que aparece como “Denero” nos créditos) e Clayburgh. 

+ DOIS FILMES

A MANSÃO MACABRA (Burnt Offerings)

Com esse retorno do interesse por filmes de casa assombrada por ocasião do terceiro INVOCAÇÃO DO MAL, este A MANSÃO MACABRA (1976), de Dan Curtis, foi citado como um dos melhores e mais interessantes exemplares do subgênero. E isso, naturalmente, despertou minha curiosidade. De fato é um filme que, mesmo usando alguns elementos bem familiares, tem uma cara própria. Temos mais uma vez uma família à procura de uma casa, mas desta vez para passar o verão, alugar durante um período de três meses. Há algumas condições que os donos impõem, sendo que uma delas é cuidar da idosa de 85 anos que fica o tempo todo no quarto do andar de cima. A esposa (Karen Black) é a mais interessada na casa e o marido (Oliver Reed) se sente compelido a satisfazê-la. Seguem o casal, o filho pequeno e a tia (Bette Davis, que na época já estava bastante à vontade no gênero). O diferencial do filme está na casa como elemento de prisão e de deterioração da família, a partir de estranhos incidentes. Não é um filme de sustos, mas de construção de atmosfera. E nisso é muito bem-sucedido. Filme presente no box Obras-Primas do Terror 6.

ARMY OF THE DEAD - INVASÃO EM LAS VEGAS (Army of the Dead)

Zack Snyder volta ao filão que marcou sua estreia na direção de cinema, o filme de zumbi, com MADRUGADA DOS MORTOS (2004). E, diferente de LIGA DA JUSTIÇA DE ZACK SNYDER (2021), que foi um trabalho feito com mais cuidado e carinho, este ARMY OF THE DEAD - INVASÃO EM LAS VEGAS (2021) parece ser um tanto mais desleixado. Mas isso não chega a prejudicar, até combina com a estética do filme (a fotografia do próprio Snyder não é lá essas coisas também). O que acaba importando mesmo é a jornada dos heróis, em um trabalho que é pouco nobre, assaltar um cassino unindo uma equipe qualificada, em uma Las Vegas infestada por zumbis. E por zumbis, é bom lembrar que temos aqui também aqueles rapidinhos do primeiro filme do Snyder. Na verdade, os zumbis agora são inteligentes e têm sentimentos. Nem todo o grupo é formado por pessoas carismáticas, mas se destacam o líder (Dave Bautista), a filha dele (Ella Purnell) e Lilly (Nora Arnezeder). Há espaço no meio da ação para discutir relacionamentos e isso não chega a ser ruim, pois tira seus personagens da extrema superficialidade. No mais, temos Snyder mais uma vez usando boas canções pop na trilha.

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