segunda-feira, abril 26, 2004

MADRUGADA DOS MORTOS (Dawn of the Dead)



Esse final de semana foi especial pra quem gosta de cinema. Além da obra-prima de Quentin Tarantino, um puta filme de horror estreou em circuito nacional. É o melhor filme de terror que eu vi no cinema desde SINAIS, de M. Night Shyamalan (se bem que eu me lembrei agora de PREMONIÇÃO 2, que também é um filmaço). MADRUGADA DOS MORTOS, do diretor estreante em longa-metragem Zack Snyder, já conquista o respeito do espectador na seqüência inicial, em que se vê a enfermeira Sarah Polley tendo de lidar com uma desgraça: sua filha e seu marido transformados em zumbis. Em seguida, em sua fuga de carro, a câmera oferece ao espectador uma visão de cima, mostrando toda a destruição que está acontecendo na cidade - carros esbarrando, centenas de zumbis atacando as pessoas, outros recebendo tiros na cabeça, explosões. Essa seqüência é espetacular e lembra de imediato uma cena da obra-prima OS PÁSSAROS (1963), de Alfred Hithcock. Começam, a seguir, os créditos, ao som de "The Man Comes Around", maravilhosa canção apocalíptica do grande Johnny Cash. Essa foi a segunda vez que ouvi essa canção em um filme num curto espaço de tempo (a primeira vez foi em CAÇADO, de William Friedkin).

Logo quando se começou a falar desse remake do clássico de George Romero (ZOMBIE: O DESPERTAR DOS MORTOS, 1978), muito fã do filme original torceu o nariz e achou logo que iam fazer porcaria e mexer em coisa "sagrada". Mas pelo visto, esse novo filme agradou tanto que foi até selecionado para ser exibido no Festival de Cannes. Aliás, há um preconceito tão grande com filmes de terror que o crítico Luiz Carlos Merten, do Estado de São Paulo, ficou se perguntando porque escolheram um sanguinolento filme de zumbis no meio de tantos filmes de cineastas prestigiados. Parece que isso aconteceu por força do Presidente do Júri, Quentin Tarantino. Ainda bem que Tarantino existe para mostrar ao povo mais preconceituoso o valor de certos filmes mais marginais.

MADRUGADA DOS MORTOS difere do original em vários aspectos. O que há de parecido com o filme de Romero na trama - além dos zumbis, claro - é que boa parte da história se passa no interior de um shopping center. Diferente dos zumbis de Romero, esses têm movimentos rápidos, como os de EXTERMÍNIO, de Danny Boyle. São os zumbis do novo milênio, bem mais perigosos e fatais.

A atmosfera apocalíptica do filme é tão boa quanto a do original, mas assim como aconteceu com PÂNICO NA FLORESTA, o diretor optou por um ritmo alucinado de filme de ação. Também não há aqui uma metáfora da sociedade de consumo, não há crítica social, como no filme do Romero. Talvez porque nos novos tempos, acabaram-se as utopias. Talvez por isso que o final do novo filme também é diferente do original: aqui a esperança pode até nascer, mas morre em questão de segundos.

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