domingo, abril 18, 2004

AMOR E PAIXÃO (Capriccio)



Desde 1989, quando li na revista SET um texto de Adilson Nunes sobre a première desse filme em Paris, que eu tinha vontade de assisti-lo. (Na época, a revista era ótima, com textos de gente boa como José Geraldo Couto, Luiz Nazário, Dílson Gomes, Antonio Querino Neto, Eugenio Bucci...) Por isso, enchi o saco do Renato pra gravar pra mim o filme, que passou na MGM, em troca de uns cd´s de filmes.

Tinto Brass é o grande mestre do erotismo mundial. Ele trafega um caminho perigosíssimo entre o softcore e a pornografia. Mas faz filmes autorais, com personagens cheios de energia sexual, mulheres fogosas, adultério tratado de maneira leve. Ver os filmes de Brass é mais excitante do que ver muito filme pornô, com a vantagem de ter uma história muito bem contada.

Lembro que o primeiro filme de Brass que eu vi foi MIRANDA (1985). Aluguei a fita e botei pra rolar no videocassete da sala daqui de casa. O ruim é que, com o vídeo na sala, eu tinha sempre que interromper o filme cada vez que alguém passava. Na época, não tinha idéia de que os filmes de Brass eram tão cheios de closes da genitália feminina. Aí depois eu pude ver CALÍGULA (1979), TODAS AS MULHERES FAZEM (1992), O VOYEUR (1993), MONELLA, A TRAVESSA (1998) e A PERVERTIDA (2000). Saiu há pouco um filme mais recente do Brass em DVD, LUXÚRIA (2002), mas dizem que ele carrega bem pouco no erotismo e parece ser uma volta aos filmes que ele fazia na década de 70, menos eróticos. Nos EUA, saiu um box com três dvd´s do mestre, incluindo um que eu gostaria muito de ver: A CHAVE (1983).

CAPRICCIO (1987), quando foi resenhado pela SET nessa época recebeu o título em português de VÍCIOS E CAPRICHOS, mas acabou não sendo lançado nos cinemas, nem tendo lançamento em vídeo, no Brasil. O filme é da boa safra, com muito erotismo, mulheres gostosas, história envolvente. Conta a história do casal de americanos Fred e Jennifer (Nicola Warren), que voltam para a Itália, lugar onde se conheceram durante a 2a Guerra Mundial, para dar uma melhorada no seu relacionamento, que não anda muito bem. O problema é que tanto ele quanto ela estão pensando em rever os seus amantes italianos. Fred volta para dar umas com Rosa (Francesca Dellara), enquanto Jennifer quer mesmo é ver o cara que tirou a sua virgindade, Ciro. Francesca Dellara pode ser vista no filme A CARNE (1991), de Marco Ferreri.

Uma das melhores cenas do filme é a cena de Ciro pegando Jennifer à força e tirando sua virgindade. Quase um estupro. Tinto Brass não deixa por menos, mostrando o sangue em close na vagina da moça e a expressão de amor nos olhos dela. A câmera é bem safada e tenta, a todo momento, pegar os melhores ângulos dos corpos voluptuosos das meninas. O próprio diretor aparece de maneira surrealista numa cena de sexo entre Ciro e Jennifer, babando feito um tarado doido, olhando para o belo corpo de Nicola Warren. Outra cena famosa do filme é a cena do xixi no radiador.

Legal o final do filme, quando Jennifer usa a frase: “O amor é o encontro de duas liberdades”. Aqui não há lugar para a culpa no adultério. A culpa cristã é meio que deixada de lado e os italianos, nos filmes de Brass, revivem os seus momentos pagãos, quando os deuses eram tão tarados quanto os seres humanos.

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