quinta-feira, julho 23, 2020

CORAÇÕES EM LUTA (Vier um die Frau)

Assim como aconteceu quando parei para assistir a DEPOIS DA TEMPESTADE (1920), o outro dos filmes de Fritz Lang perdido e encontrado na Cinemateca Brasileira em 1986, a tarefa de ver CORAÇÕES EM LUTA (1921) não foi das mais fáceis. Voltei o filme depois dos quinze minutos iniciais por duas vezes para procurar entender a trama. O fato de esta cópia, em particular, não ter sequer uma música de acompanhamento torna a experiência um pouco mais desafiadora. Há a curiosidade de ser a cópia brasileira, com intertítulos em português. Aliás, é curioso como se havia o trabalho até mesmo de fotografar bilhetes e cartões de apresentações escritos em português para anexar no filme original.

É um filme que passa a impressão de ser mais direcionado a públicos mais ricos, tanto pela identificação com personagens com jeitos aristocráticos, quanto pela trama, que precisa ser apreciada com muita atenção para uma melhor compreensão. O filme anterior de Lang já era um tanto confuso, mas se culpava a falta de rolos perdidos no processo. Esse talvez não tenha tanta metragem perdida, mas ainda assim tem uma trama intricada envolvendo uma mulher e quatro pretendentes.

Logo no começo, somos apresentados a Yquem (Ludwig Hartau), o homem rico tido como um crítico (de teatro, provavelmente) que é também famoso por ser casado com uma das mais belas mulheres da cidade. Ele na verdade é um falsário, uma espécie de antecipador do Dr. Mabuse, inclusive na utilização de disfarces. Yquem desconfia que a esposa Florence (Carole Trõlle) o está traindo. Ele conhece a história de uma paixão que ela nutria por um homem, Werner Raff (Anton Edthofer), antes do casamento.

Aliás, abrindo um parênteses para falar de Carole Trõlle, vale destacar que a cópia brasileira faz uma espécie de separação do filme em capítulos, sempre apresentando no intertítulo o título do filme e o nome da estrela principal como chamariz. Não tenho conhecimento de sua carreira no cinema, mas ao que parece, nas primeiras décadas do século XX, ela era uma estrela.

O desenrolar da trama, em vez de facilitar, complica, com a inclusão de mais personagens, situações envolvendo irmãos gêmeos (como havia também em DEPOIS DA TEMPESTADE), mais tramas envolvendo roubos de joias e outros crimes. E a pobre da cópia, saltitante, ainda termina de maneira brusca. Talvez seja o final mesmo, mas no mínimo alguns fotogramas foram perdidos no meio do caminho e que acabou por deixar o filme sem epílogo.

É curioso como se trata de um filme pequeno, ainda que já traga elementos marcantes da autoria de Lang. E pensar que está apenas a um outro filme de uma obra-prima como DR. MABUSE, O JOGADOR (1922)...

+ TRÊS FILMES

CORRESPONDENTE ESPECIAL (Confirm or Deny)

Trata-se de um filme mais interessante do que exatamente bom. Fritz Lang chegou a fazer parte da produção, mas foi substituído depois de seis dias. É interessante também ver que se trata de um filme feito no calor do momento, enquanto a Inglaterra estava sofrendo bombardeios alemães. E é também interessante por ser um filme que adota o estilo das screwball comedies para lidar com os diálogos e os momentos românticos de Don Ameche e Joan Bennett. Nem sempre funciona e, mais para o final, o filme vai ganhando toques mais dramáticos. Gosto muito da cena em que os dois se conhecem, durante um blecaute. Passa uma sensação de que até durante a guerra era possível se divertir. Só é uma pena que o resultado não tenha sido tão positivo. Destaque para o menino Roddy McDoweall, que havia participado do filme anterior de Lang, O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (1941). Quanto a Joan Bennett, ela estaria presente em três futuros títulos de Lang. Direção: Achie Mayo. Ano: 1941.

PAZ PARA NÓS EM NOSSOS SONHOS (Ramybė Mūsų Sapnuose)

Não consegui entrar no clima deste trabalho de Sharunas Bartas, que dizem que é justamente o seu filme mais fraco. Meu amigo Michel Simões conhece os seus filmes anteriores para dizer isso. Justo o primeiro que resolvem lançar por aqui. Ao menos a distribuidora segue com sua postura de apostar em obras arriscadas. Mas gosto de uma cena envolvendo uma amante (?) do protagonista. A cena eleva o filme, muito pela força da atriz em cena. É melhor do que tudo o mais, incluindo seus personagens pouco atraentes. Ano: 2015.

O TESOURO (Comoara)

Havia esquecido de escrever algumas linhas sobre este belo filme, que passa uma impressão de desespero pela crise financeira, aventura e até um certo ar de conto de fadas. É filme a se sair do cinema pensando a respeito. E dá pra rir bastante também. Esses romenos sabem fazer um cinema muito interessante. Direção: Corneliu Porumboiu. Ano: 2015.

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