Marisa Monte é provavelmente a cantora brasileira que mais pessoas consegue reunir sempre que faz um show. Mais até do que grandes estrelas, como Maria Bethânia e Gal Costa. Ela consegue ser ao mesmo tempo muito popular, graças ao flerte com canções mais pop e também com algumas de dor de cotovelo, e uma sofisticação tanto nos arranjos, quanto nas escolhas de canções e parceiros nas composições. Foi assim desde o seu segundo disco de estúdio, Mais (1991).
Mesmo estando distante dos shows, por não me sentir mais à vontade em multidões, estava especialmente interessado em ir a este, dada a minha admiração por Marisa. Por isso quis me unir à minha amiga Natércia para vermos o espetáculo. Juntou-se à gente os meus amigos Júnior e Ane, que se demonstraram interessados em ir também. Uma turma que me fez bem o suficiente para eu me sentir à vontade.
Os artistas deste primeiro dia do festival confirmados eram Giulia Be (jovem artista iniciante de aparentemente um único hit), Silva e terminando com Marisa. Giulia Be tenta animar o público, mas talvez tenha agradado mais ao pessoal que estava mais próximo do palco. As pessoas, que estavam ali pela Marisa e provavelmente também pelo Silva, não se animaram tanto com as poucas canções da bela jovem. Ela se esforçou para grudar em nossos ouvidos o sucesso "Menina solta". De todo modo, vai que ela nos surpreende um dia e lança um baita álbum.
Falando em surpresa, que belo show o Silva fez, hein. Eu comecei a dançar com o único objetivo de disfarçar as minhas dores nas costas (não posso ficar de pé e parado durante muito tempo, sem ter uma dor na lombar). Então, dançar, me mexer, se fez necessário para diminuir ou anular as dores. E deu certo. E comecei a dançar com gosto mesmo quando Silva começou cantar canções de Caetano Veloso ("Me larga", "A luz de Tieta", "Meia lua inteira"), Gilberto Gil ("Toda menina bahiana") e Paralamas do Sucesso ("Uma brasileira"), entre outras.
Por mais que ele seja um grande artista e eu desconheça a obra dele, me ficou a impressão que essa nova geração (ele incluso) nunca alcançará a excelência de caras como Caetano e Gil, realmente gigantes, e a quem ele deve o crédito de ter conseguido incendiar a plateia quando cantou essas canções. A semelhança da voz de Silva com a de Caetano os aproxima. Achei estranho, porém, ele não ter cantado nada da Marisa Monte, já que fez um disco inteiramente dedicado a ela (Silva Canta Marisa Monte, 2016).
E eis que ela entra, infelizmente com o som um pouco baixo (coisa que não aconteceu no show do Silva) e com os telões ao lado pifados (logo no show dela!). É sempre assim: segunda vez que vejo um show dela e uma dificuldade de me aproximar, uma multidão imensa impedindo uma melhor visibilidade. E agora essa chateação de gente filmando o tempo todo com seus celulares atrapalhando a visão. É muito irritante. Se ao menos fosse só para tirar suas fotos. Mas não: filmam, postam em seus stories, filmam de novo e de novo. Um horror. Ao menos no cinema a gente pode reclamar disso.
Marisa Monte começa com "Maria de verdade", faixa que eu nem gosto muito, mas que foi marcante por abrir o histórico álbum Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994). Em seguida, parte para algo mais novo milênio, com "Infinito particular", "Vilarejo" e "Ilusão". Nessa época, eu havia parado de acompanhar ativamente o trabalho de Marisa, de comprar seus álbuns, não sei bem o motivo. Talvez tenha sido erro da minha parte.
Volta para os anos 90 para começar uma dupla de canções de dor de cotovelo, "Dança da solidão" e "Depois", para depois cantar a que talvez seja a minha favorita dela, "Beija eu", de seu segundo disco. Acho uma canção com uma simplicidade e uma delicadeza tão únicas. E tem aquela guitarra do Arto Lindsay, genial.
Anima o público com a popular "Velha infância", primeira dos Tribalistas que ela canta, depois voltar no passado com "Diariamente", que rendeu aplausos efusivos ao final. Aliás, por ser uma canção mais para ouvir do que para cantar, foi o único momento em que as vozes do público se calaram para apreciar a voz única e maravilhosa de Marisa Monte, que tem a generosidade de elogiar a voz do coro e de querer que as pessoas cantem junto. Ao contrário de certos artistas, que mudam a canção só para não deixar as pessoas cantarem junto (alô, Roberto Carlos!).
As próximas faixas, "Preciso me encontrar" (linda!) e "A sua" antecipam aquela que me deixaria arrepiado, "Ainda bem", dessas faixas do novo milênio que ganharam muitos corações. E é uma canção sobre um momento de alegria intensa, embora deixe um tanto triste aqueles que ainda não encontraram sua cara-metade. Ela continua com "Baião do mundo", "Segue o seco" (foi mundo bom ouvir novamente essa canção tão marcante), "Eu sei (na mira)" e "Carnavália".
Quando estava reclamando que ela não tinha cantado nada do Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), disco que representa a fase mais feliz de minha vida, ela entra com a deliciosa "Não vá embora", para encerrar o show com "Passa em casa".
Como ela estava com o pé torcido (quase não veio, mas teve que ficar o tempo todo ali no banquinho por causa disso), ela brincou que o bis seria sem fazer o charminho de sair e voltar. Cantou uma versão mais curta de "Amor, I love you". Manda chamar novamente o Waldonys para cantar de novo "Velha infância" (por que não foi outra?) e fechar com mais uma dos Tribalistas, "Já sei namorar". Essa grande quantidade de faixas dos Tribalistas no show se justifica talvez pela turnê recente de reencontro dela com o Carlinhos Brown e o Arnaldo Antunes.
As pessoas não param de pedir mais, porém a banda já vai embora. Como consolo, Marisa começa a cantar à capela "Bem que se quis", e vai embora, deixando o público cantando sozinho essa que foi seu primeiro hit. Faltou muita coisa boa, mas não se pode ter tudo. Belo show de uma grande e querida artista. Não é todo dia que ganhamos um presente desses, não.
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