O novo filme do Homem-Aranha chega, dessa vez, em parceria com os estúdios Marvel, o que, em parte, é algo bom. O ideal seria se todos os heróis da Marvel pudessem fazer parte desse Universo Compartilhado, embora toda essa coisa tenha uma aspecto comercial que acaba exigindo do espectador um conhecimento de todos os outros filmes do estúdio. Afinal, todos eles estão conectados.
No caso de HOMEM-ARANHA – DE VOLTA AO LAR (2017), do pouco conhecido Jon Watts, a principal conexão é com CAPITÃO-AMÉRICA – GUERRA CIVIL (2016), que trouxe a primeira aparição do personagem dentro desse universo. E o interessante é que a intenção é mostrar um Aranha/Peter Parker mais próximo das histórias de Stan Lee e Steve Ditko, ou seja, um adolescente desajeitado e com pouca popularidade na escola.
Ao mesmo tempo, há uma simbiose com a versão Ultimate do personagem, já que temos aqui a figura de um melhor amigo, Ned (Jacob Batalon), um gordinho trazido da versão de um universo alternativo criada pelo roteirista Brian Michael Bendis para o personagem. Como Ned é um personagem simpático, não deixa de ser bem-vindo. O problema é que ele, assim como tantos outros elementos do filme, são feitos para fazer o público rir e não são eficientes nesse sentido. O que, aliás, é quase uma constante em grande parte dos filmes da Marvel, mas que aqui sofre muito mais com esse problema.
Só para efeito de comparação, MULHER-MARAVILHA, de Patty Jenkins, sem se esforçar muito para fazer o público rir, consegue fazer isso com muito mais naturalidade e alcança um público muito maior. Sabemos que são dois estúdios diferentes e rivais, mas com a distância de lançamento tão curta entre os dois filmes, fica inevitável a comparação, levando em consideração esse quesito pouco ou nada eficiente. Aliás, também não funcionam em quase nenhum momento as cenas de ação, sem impacto.
Então, o que afinal funciona em DE VOLTA AO LAR? Funciona Michael Keaton no papel do Abutre. Genial, aliás, terem escalado o ator, logo depois de ele ter interpretado um super-herói alado, Birdman, no premiado filme de Alejandro González Iñárritu. Sem falar que Keaton já foi o Batman também. Aqui seu personagem está presente duas das poucas cenas que realmente funcionam bem no filme: a cena da visita à casa de Liz (Laura Harrier), o interesse amoroso de Peter; e a cena no carro, em conversa com Peter. Ambas trazem elementos de suspense que até então o filme não havia explorado. Vendo a filmografia do diretor, temos pelo menos dois filmes dos gêneros suspense e terror, CLOWN (2014) e A VIATURA (2015), e é bem provável que isso seja o forte de Watts.
Então, é possível que estejamos diante de um jovem diretor talentoso que, tendo que se submeter às regras de um grande estúdio para fazer um filme de ação sem tempo para o público pensar ou sentir, prejudica a si e à sua realização milionária. A ideia da realização não é ruim. Vendo os créditos finais, com imagens de desenhos parecidos com os de uma criança e ao som de "Blitzkrieg Bop", dos Ramones, nota-se que a vontade de voltar às origens do herói falou forte, embora, paradoxalmente isso tenha que conviver com a alta tecnologia do traje criado por Tony Stark (Robert Downey Jr.), o que faz com que às vezes pensamos estar vendo um filme de um Homem de Ferro mais desastrado.
Mas isso não deveria ser um obstáculo. Afinal, as aparições do Homem de Ferro são apenas pontuais, e o Homem-Aranha muitas vezes procura enfrentar situações mais corriqueiras do seu bairro, como ladrões pouco perigosos ou coisas do tipo. A luta com o Abutre, que demora tempo demais para acontecer, é, portanto, seu batismo de fogo. Há outros vilões conhecidos dos fãs do herói aracnídeo no filme, mas suas aparições são mais discretas e, quem sabe, funcionem como um aperitivo para um segundo filme.
No mais, também podemos ver como um acerto a controversa escalação de Marisa Tomei como a Tia May. É inusitado ver uma mulher tão jovem e bonita fazendo o papel de uma personagem clássica representada nos quadrinhos tradicionalmente como uma senhora idosa. A May de Marisa Tomei funciona até mesmo para que o mulherengo do Tony Stark lhe faça uma piada/elogio em uma cena no início do filme. Outras opções curiosas envolvem uma cota de etnias que muda a caracterização de alguns personagens de apoio. De todo modo, o mais importante é que os produtores consigam acertar de verdade no segundo filme. Senão, os pedidos de "volta, Sam Raimi!" só tenderão a aumentar.
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