quinta-feira, novembro 24, 2016

DEPOIS DA TEMPESTADE (Umi Yori Mo Mada Fukaku)























O foco na família continua forte no cinema de Hirokazu Koreeda. Ainda que seja bem menos sombrio do que NINGUÉM PODE SABER (2004) e mesmo do que O QUE EU MAIS DESEJO (2011), ainda assim DEPOIS DA TEMPESTADE (2016) é desses filmes que parecem manter uma nuvem negra sobre seu protagonista, um escritor fracassado que agora faz bicos trabalhando como detetive particular e que tem muita dificuldade para pagar a pensão do filho, fruto de um casamento que chegou ao fim. Ele ainda sente muita falta da esposa, demora para virar a página, sem falar que é muito doloroso para ele ter que se ausentar do garoto.

O personagem problemático, que usa de artimanhas para conseguir o que precisa, como até mesmo tentar roubar a própria mãe, entre outras coisas, mas percebemos que se tratam de atos desesperados, pelo menos dentro da cabeça dele. Podemos vê-lo como um sujeito que demorou a crescer e por isso acaba perdendo tudo o que havia conquistado, mas também podemos ser mais solidários com ele, especialmente quando há uma triste identificação com muitos aspectos de sua personalidade e de sua vida.

Uma das curiosidades de DEPOIS DA TEMPESTADE é o modo como Koreeda filma as ruas, quase sempre vazias. Aquilo passa uma sensação de um universo quase morto, como se não houvesse escapatória para o protagonista a não ser tentar se reconciliar com a esposa, que, no entanto, está bastante ciente de que seu casamento acabou e tem um posicionamento bem prático diante da vida. Para ela, não dá para conviver com um homem tão irresponsável.

Ainda assim, se não torcemos por ele, nos sentimos do lado de Ryota, o protagonista, principalmente no terço final do filme, quando a narrativa encaminha os personagens mais importantes para a casa da avó (Kirin Kiki, a velhinha de SABOR DA VIDA). Aliás, impressionante como a atriz, que já havia aparecido em outros filmes do diretor, funciona como a personificação da mãe/avó amorosa. E de como esse aspecto, bem como o ritual de fazer refeições e de comer, é tão próximo dos valores japoneses.

A parte final do filme é a mais rica em significação e em sentimento, com a chegada de Ryota e do filho na casa da avó, enquanto esperam um tufão que deve causar alguns estragos na cidade. O aconchego da casa da avó, seus olhos amorosos e tristes pelo insucesso do filho, a tentativa de aproximação com a nora, tudo isso é explorado com muita delicadeza. Koreeda, em vez de fazer um melodrama carregado, prefere um drama agridoce, sutil, que nos aproxima daquela família e nos deixa tristes, mas até que bastante conformados com a situação final. Que, aliás, não chega a ser uma solução pessimista, mas realista.

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