sábado, novembro 05, 2016

PEQUENO SEGREDO























Às vezes certas polêmicas acabam prejudicando um pouco a apreciação de certos filmes, trazendo até um pouco de preconceito por parte de alguns. Por causa de sua escolha para ser o candidato brasileiro ao Oscar, PEQUENO SEGREDO (2016), de David Schurmann, tem sofrido um bocado com isso. Trata-se de uma história em registro de melodrama baseada em um momento da vida da família Schurmann, a primeira família de brasileiros a dar a volta ao mundo de veleiro. O filme em questão foca na adoção e convivência de uma garotinha pela família.

O ideal é ver o filme sem saber nada sobre a história, a fim de ser beneficiado pelas surpresas, não apenas da trama, como do modo como os paralelismos se unem até o enredo chegar a um determinado momento e seguir numa ordem cronológica mais linear. No começo, tudo até parece fruto de uma edição mal feita. Depois, se percebe que foi inteligente o modo como é construída a narrativa. Mas mesmo quando o filme não entrega tudo de bandeja ao espectador, Schurmann em nenhum momento faz um trabalho chato ou maçante. É tudo bem agradável de ver.

O que não dá pra esperar é uma obra de ponta do cinema brasileiro, com toda uma sofisticação visual e uma inventividade que conta pontos quando falamos de grandes filmes. Este ano temos os casos de O SILÊNCIO DO CÉU, de AQUARIUS e de BOI NEON, como exemplares desse cinema mais elaborado. No entanto, uma vez que não precisemos fazer comparações, o ideal é aceitar PEQUENO SEGREDO como ele é. Ou seja, um melodrama convencional, mas bastante eficiente, e com alguns momentos especialmente emocionantes.

Muito disso se deve ao elenco. Nem tudo funciona como deveria, principalmente porque os dois astros internacionais são especialmente ruins, ou, no mínimo dissonantes com o restante do elenco brasileiro. Assim, tanto o neozelandês Errol Shand, quanto a irlandesa Fionnula Flanagan, não estão bem nos papéis de marido de Robert e Barbara, filho e mãe, sendo que ele é o namorado e posteriormente marido de Jeanne (Maria Flor), a brasileira que mora na Amazônia, lugar que aquele gringo escolheu para fugir de sua família, de sua vida. Nessa fuga, ele acaba se apaixonando por essa moça bonita, e Maria Flor está muito bem com a pele levemente escurecida pela maquiagem. E o filme resolve contar a história desse casal também, os pais da garotinha Kat, que é o denominador comum das duas histórias que se cruzam.

Em paralelo, vamos acompanhando a rotina de vida da pequena Kat (Mariana Goulart) na escola, onde ela é alvo de bullying por mancar ou por ser menor do que as outras de sua idade, mas também acompanhamos o amor que ela recebe da família, em especial de seus pais, vividos por Júlia Lemmertz e Marcello Antony. E o filme capta de maneira muito delicada essa relação da pequena Kat com os pais. As cenas internas, de conversa dela com a mãe, são especialmente belas.

E se os realizadores do filme se enxergam em um Oscar, certamente, a cena da mãe da garota dando um discurso sobre o amor para a avó preconceituosa, estaria naquele "momento Oscar". Não há como negar o quanto PEQUENO SEGREDO é devedor da estética tradicional hollywoodiana. Para o bem e para o mal. Perde pontos no modo como trata a avó de maneira exageradamente cheia de preconceitos, quase uma vilã da história, mas ao menos isso é feito em favor da construção do enredo e desse momento especial citado nesse parágrafo.

O filme tem chances de agradar a um grande público, justamente por ser acadêmico, fácil de ser compreendido, e de contar uma história que pode levar muitos espectadores às lágrimas. Vamos aguardar, então, o resultado em breve dessa recepção, quando o filme estrear em grande circuito no próximo dia 10.

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