quarta-feira, janeiro 28, 2015
CLÉO DAS 5 ÀS 7 (Cléo de 5 à 7)
De vez em quando é preciso pedir ajuda à memória para que possamos reavivar os momentos de prazer que certos filmes nos proporcionaram, mas que, por algum motivo, não foi dito em forma de texto, que no meu caso é a melhor maneira de completar a apreciação fílmica. É uma das últimas chances que temos de refletir sobre a obra.
CLÉO DAS 5 ÀS 7 (1962), visto no ano passado, representa um momento especial da Nouvelle Vague francesa que infelizmente não é tão exaltado quanto os trabalhos feitos por Godard, Rohmer, Truffaut, Rivette, Chabrol etc. Talvez pelo fato de Agnès Varda ser mulher e vivermos em uma sociedade machista, que não a colocaria em pé de igualdade com os demais, ainda que ela fosse bastante enturmada com Godard, vide o divertido filme dentro do filme que é exibido em CLÉO. Nele, vemos Godard e a então sua musa Anna Karina em um filme mudo sobre a visão que alguém pode ter do mundo, uma visão mais pessimista, no caso.
Tudo a ver com o drama de Cléo, interpretada pela linda Corinne Marchand, que um ano antes havia aparecido em um papel menor em LOLA, A FLOR PROIBIDA, de Jacques Demy, marido de Varda. Aqui ela interpreta uma jovem cantora pop cheia de mimos e riquezas, mas que, no entanto, espera receber os resultados de uns exames que poderão lhe dizer que ela está com câncer de estômago. O filme se inicia com sua ida a uma cartomante, que diz que as cartas nunca mentem, ao mostrar as figuras da morte e a do enforcado.
E, na visão de Cléo, aquilo tudo é mais uma amostra da tragédia pessoal que lhe sobrevirá naquele dia, e em especial naquelas horas da tarde, que vão das cinco às sete horas. Que são horas consideradas perfeitas para fazer amor segundo os parisienses, mas que para Cléo seria um intervalo de tempo perturbador. É também um momento em que ela se apega mais à vida, percebe com mais força pequenas coisas, como o diálogo de um casal em um café ou a bela paisagem de um parque.
O filme é uma delícia e passa voando, com sua edição acertada, que experimenta o uso do tempo real na história da protagonista. Apesar do título, o filme vai das cinco às seis e meia da tarde, tendo apenas 90 minutos de duração. O barato de CLÉO DAS 5 ÀS 7 é que curtimos cada minuto, não ficamos pensando em como terminar ou como será o final, possivelmente trazendo o resultado dos exames de Cléo. Embora a protagonista esteja numa situação de aflição, de vez em quando a chamada para o presente traz a ela e a nós, espectadores, uma doce alegria de viver.
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