quarta-feira, agosto 20, 2014

CANDEIAS EM TRÊS FILMES
























A iminente estreia de um documentário sobre Ozualdo Candeias me deu um empurrãozinho para que finalmente eu pudesse ter o primeiro contato com sua obra. Ou, pelo menos, duas delas. No caso, as mais louvadas de sua carreira: A MARGEM (1967) e MEU NOME É...TONHO (1969). Candeias é considerado um dos nomes mais importantes do chamado Cinema Marginal, que surgiu na segunda metade dos anos 1960 com cineastas como Julio Bressane, Andrea Tonacci, Carlos Reichenbach, Rogério Sganzerla, entre outros. O Cinema Marginal levou o cinema brasileiro para um nível maior de sofisticação e risco, com bem mais experimentações que o Cinema Novo.

A MARGEM 

No caso de A MARGEM, a experimentação é bastante corajosa. Nota-se a falta de recursos, que fez com que a obra de estreia na direção de longas de ficção de Candeias fosse um filme quase mudo, pela dificuldade em trabalhar com o processo de dublagem. Assim, nas poucas vezes em que os personagens falam, já se percebe o problema de sincronia. Mas isso não chega a ser um grande problema. Afinal, tudo faz parte da estética do filme, que namora tanto o feio como o belo ao mostrar um grupo de pessoas que vivem em locais muito pobres e que entraram em contato com outros. Há também uma misteriosa mulher que atravessa um barco e cuja representação traz ainda mais poesia para a obra. Destaque para o trabalho de câmera subjetiva, feito de maneira admirável. Ainda assim, considero-o um filme irregular. Prefiro bem mais a primeira parte do que a segunda. Com a mudança de protagonista, a narrativa perde um pouco o interesse.

MEU NOME É…TONHO

O trabalho seguinte de Candeias, por outro lado, é de uma beleza admirável, além de ter um ritmo muito agradável. MEU NOME É...TONHO é uma espécie de western brasileiro, que se passa no interior do São Paulo, quando um grupo de bandoleiros toca o terror nas fazendas, matando os homens e deixando vivas as mulheres jovens e bonitas para serem suas escravas-noivas. Já o herói do título até aparece pouco. É um homem simples que foi criado por um grupo de ciganos e que resolve sair para conhecer o mundo. Acaba se tornando o salvador de muitos. O filme já conquista o espectador com os créditos de abertura, que apresentam, ao som da viola, os atores e atrizes. Há muitas cenas de tiroteios. Tanto que pode-se dizer que há mais tiros do que conversa. A fotografia em preto e branco está especialmente muito bonita nesta versão remasterizada. Um tratamento mais do que justo para um dos filmes mais importantes de nossa cinematografia.

OZUALDO CANDEIAS E O CINEMA

O documentário de Eugenio Puppo sobre Candeias é bem interessante e nos apresenta ao homem por trás dos filmes. Um homem humilde que fez de quase tudo na vida antes de se tornar um diretor de cinema, um sonho perseguido. Inclusive, o Candeias sofisticado de A MARGEM não nasceu da noite pro dia, já que ele dirigiu uma série de pequenos filmes e foi assim ensaiando sua entrada triunfal no cinema de arte. OZUALDO CANDEIAS E O CINEMA (2013) dá mais espaço aos três primeiros longas de ficção de Candeias, mas também nos apresenta seus primeiros trabalhos e os seguintes, até o momento da decadência da Boca do Lixo. Aliás, a chegada do sexo explícito no cinema da Boca ganha destaque no filme, com algumas cenas gráficas. É um documentário bem agradável e que serve até mesmo como iniciação àqueles que nunca viram nenhum trabalho de Candeias.

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