domingo, julho 14, 2013

PACTO DE SANGUE (Double Indemnity)























A Segunda Guerra Mundial deixou um rastro de pessimismo no mundo todo. Se os Estados Unidos não partiram para algo tão radical quanto a Itália e seu Neorrealismo, a seu modo, e principalmente pela visão de cineastas estrangeiros trabalhando em Hollywood, formou-se um estilo que marcaria boa parte da cinematografia americana e que seria reflexo dos tempos sombrios daquela época. PACTO DE SANGUE (1944) é considerado um dos primeiros film noirs, que abriria as portas para esse estilo que valorizava luz e sombras, principalmente as sombras.

PACTO DE SANGUE é bastante representativo desse subgênero por trazer elementos comuns a outros filmes que viriam, como a figura da femme fatale, de nos colocar no lugar de um criminoso, de fazer uso das literaturas baratas policiais. No início, o filme foi bastante ousado, transgressor até, embora os textos-fonte já fossem sucesso popular desde a década de 1930. Mas o filme, além da certeira direção de Billy Wilder, ainda conta com a ajuda do escritor Raymond Chandler no roteiro, adaptando de maneira poética a novela de James M. Cain.

O meu interesse repentino para ver PACTO DE SANGUE, obra básica, que todo cinéfilo que se preze deve ver logo nos anos iniciais, veio finalmente com a leitura de História do Cinema, delicioso livro de Mark Cousins. Lembrei que tinha cópia do DVD da Versátil, que ainda conta com um ótimo documentário sobre o filme e sua influência sobre os vários filmes do gênero posteriores. Mas principalmente sobre seu valor, sobre os bastidores, só aumentando ainda mais a impressão já intensamente rica que o filme nos deixa, com aquele final amargo e arrepiante.

Outro destaque importante do filme é a excelente fotografia de John F. Seitz, que trabalharia com Wilder ainda em FARRAPO HUMANO (1945) e em CREPÚSCULO DOS DEUSES (1950). No documentário, destacam o uso da luz passando pelas frestas e deixando, inclusive, aquela poeira, que ele conseguiu através de um artifício especial. Infelizmente esse detalhe eu não percebi vendo o filme em DVD. Provavelmente é bem mais visível na telona ou em uma cópia HD. A própria Barbara Stanwyck dizia que a fotografia ajudou bastante no resultado de sua atuação, como a mulher que seduz o vendedor de seguros vivido por Fred McMurray a fazer um crime: matar o marido dela de uma forma que pareça acidental e ambos recebam uma boa quantia em dinheiro.

Mas, como já é de se prever, as coisas não são tão simples assim, por mais que todo o planejado até a morte do homem funcione. O mais difícil é passar impune pela polícia e principalmente pelo homem esperto que trabalha na seguradora, vivido pelo sensacional Edward G. Robinson. Não só ele. Há também a filha do falecido, que suspeita da madrasta. Uma coisa que William Friedkin destaca, no documentário, é a voice-over do protagonista comentando que, naquela manhã, logo após efetuar o crime, ele não conseguia sentir os pés enquanto caminhava. Era a caminhada de um homem morto.

E de fato o filme passa todo o desespero da situação. Se antes havia amor por parte dele pela mulher, com aquela angústia o comendo por dentro, o que ele mais queria era sua vida de volta. Mas quem diria que no final o que predominaria não seria o amor dele pela femme fatale, mas o amor do amigo que trabalhava com ele, num dos melhores diálogos sobre a amizade entre dois homens que deixaria Hawks com inveja. Ou pelo menos comovido.

É terminar de ver PACTO DE SANGUE e ficar apaixonado pelo filme. E nem precisa ser necessariamente fã de Billy Wilder para isso, muito embora o respeito pelo seu trabalho só aumente. Ao pegar um pouco do expressionismo alemão aqui, das literaturas pulp ali e de influências dos filmes de suspense de Alfred Hitchcock, Wilder fez um filme que rivaliza fácil com algumas das melhores obras do mestre do suspense.

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