quarta-feira, julho 24, 2013

O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (The Place Beyond the Pines)























Depois de NAMORADOS PARA SEMPRE (2010), Derek Cianfrance ganhou visibilidade mundial, com seu registro próximo do documental mostrando, muito de perto, o declínio de um relacionamento afetivo. Essa relação de proximidade com o documentário pode ser entendida uma vez que conferimos sua filmografia, com vários documentários em curta e longa-metragem e poucos filmes de ficção. Em geral, diretores que lidam bastante com o documentário, como Werner Herzog, por exemplo, acabam por fazer filmes de ficção bem interessantes e realistas.

Na história em três atos, ou tríplice história, já que os protagonistas mudam ao longo de O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (2012), esse registro permanece presente, como na sensacional perseguição da policia ao assaltante de bancos vivido por Ryan Gosling. A cena, que mostra ele com um pneu da motocicleta furado e a câmera tremida do ponto de vista da viatura o seguindo, faz lembrar um desses programas policiais. As três histórias são contadas em três diferentes perspectivas, mas sem nunca perder o foco e a personagem de Eva Mendes é uma espécie de denominador comum de todas elas.

O filme começa com a história de Luke, um homem que ganha a vida em um circo itinerante dirigindo motocicleta em um globo da morte. Tudo muda quando ele, ao passar por uma cidadezinha do interior de Nova York, reencontra uma mulher (Eva Mendes) com quem havia tido uma rápida relação algum tempo atrás. Ao descobrir que tem um filho com ela, passa a querer mudar de vida. Desiste da vida que leva e resolve permanecer naquela cidade, mesmo não tendo outra coisa para fazer e nem dinheiro para bancar os custos do filho.

A simpatia com que Cianfrance lida com Luke, um personagem marginal e sempre aparecendo com camisetas rasgadas, com tatuagem em todo o corpo e uma vontade imensa de ter uma família, mesmo que para isso assalte bancos, faz com que o cinema do diretor se assemelhe em alguns aspectos ao cinema de Nicholas Ray, também famoso por passar um amor pelos tipos marginalizados e fracassados. E por mais que Gosling ainda carregue, em sua interpretação, um pouco do personagem cool de DRIVE, de Nicolas Winding Refn, há aqui um diferencial, uma busca por mais crueza, tanto em seu visual quanto em todo aquele universo pobre que o cerca. Mais uma vez podemos "culpar" a experiência de Cianfrance com os documentários.

A surpresa da entrada em cena de Bradley Cooper e a mudança de foco para o seu personagem faz com que entendamos também o seu drama, especialmente quando ele percebe a corrupção na polícia. Ele, como jovem policial, mas já aclamado como um herói, passa a sofrer com a pressão psicológica de lidar com o sentimento de culpa, de se espelhar na figura de Luke, por causa do filho de um ano. O grande momento deste ato do filme é a sequência em que o personagem de Ray Liotta (especializando-se em bandidos e homens de caráter duvidoso) o leva para o "lugar além dos pinheiros" do título original.

E já que falei de Bradley Cooper, tirando um pouco o fator-surpresa, que é tão importante para a apreciação de O LUGAR ONDE TUDO TERMINA, não custa deixar registrado a grandeza da performance do jovem Dane DeHaan, que já havia se mostrado um ótimo ator em PODER SEM LIMITES, de Josh Trank, mas que aqui, saindo do cinema fantástico para o cinema realista contemporâneo, aparece como um gigante em sua interpretação. No filme de Cianfrance, ele é o responsável por fechar uma história de tragédias familiares e a câmera do diretor o segue com um amor e um respeito semelhante ao mostrado nos dois primeiros atos. O que só acentua o caráter humanista de Cianfrance no trato com seus personagens.

Outro detalhe que merece ser destacado é a música de Mike Patton, mais conhecido como o vocalista do Faith No More, que utiliza uma trilha sonora muitas vezes perturbadora, que dá o tom necessário para a criação de uma atmosfera de desencanto que o filme propõe e, muito inteligentemente, constrói. Por isso, não seria exagero dizer que O LUGAR ONDE TUDO TERMINA é um dos melhores e mais bem-vindos lançamentos do ano.

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