segunda-feira, julho 15, 2013

CORPOS ARDENTES (Body Heat)























Um dos baratos do cinema e que o torna cada vez mais viciante é o modo como alguns filmes são conectados a outros, formando hipertextos. Assim, logo que eu me deliciei com PACTO DE SANGUE, de Billy Wilder, deu logo vontade de rever CORPOS ARDENTES (1981), visto na época de minha pré-cinefilia na televisão. Quer dizer, já fazia tanto tempo que eu vi o filme, que pouco havia ficado em minha memória. Talvez apenas a cena de William Hurt jogando uma cadeira no vidro da casa da personagem de Kathlenn Turner, que na época (início dos anos 80) era uma das mais sensuais atrizes de Hollywood. CORPOS ARDENTES foi sua estreia no cinema.

Foi também a estreia de Lawrence Kasdan na direção. Os filmes de Kasdan merecem ser redescobertos. O cineasta teve sua carreira naufragada com o fiasco de O APANHADOR DE SONHOS (2003). Ele deve ter ficado bastante traumatizado, pois só voltou a dirigir no pouco badalado QUERIDO COMPANHEIRO (2012), que conta com um de seus atores preferidos, Kevin Kline. William Hurt também é um ator bastante presente em sua filmografia e sua performance como o advogado seduzido pela mulher casada vivida por Kathleen Turner é brilhante.

Uma espécie de remake de PACTO DE SANGUE, CORPOS ARDENTES traz muitos elementos do film noir para o que seria chamado neo noir, o estilo das décadas de 40 e 50 repaginado para os anos 80 e que se faria presente em uma das obras mais representativas desta década, BLADE RUNNER – O CAÇADOR DE ANDRÓIDES, de Ridley Scott. Uma das principais diferenças entre PACTO DE SANGUE e CORPOS ARDENTES é a apresentação do sexo.

Se PACTO DE SANGUE tinha que se esquivar de cenas mais explícitas denunciando o adultério dos personagens principais, CORPOS ARDENTES já não tinha mais esse problema. O início dos anos 80 chegou com uma carga libertária que só diminuiria com o advento da AIDS. Até então, foi um período fértil para ousar em cenas sensuais. Tanto que detalhes da intimidade dos dois impressionam até hoje. Sem falar que Kathleen Turner estava mais linda do que nunca com os seus 27 anos de idade.

Há também uma diferença no registro da dramaturgia. Se o filme de Wilder trabalhava bastante com a narração em voice-over, aproximando-se bastante da literatura pulp, CORPOS ARDENTES tem um registro mais moderno, conseguindo criar uma atmosfera de sedução e perigo sem precisar explicitar os pensamentos do personagem de Hurt. Não que eu queira dizer que é um filme melhor. Não é. Mas não deixa de ser uma obra cheia de brilho com uma direção acertada de Kasdan.

A tal cena da explosão de desejo que faz com que o advogado vivido por Hurt destrua o vidro da mansão da femme fatale para a primeira noite de sexo é muito bem coreografada, com a aproximação e o distanciamento da câmera para enfatizar o desejo irrefreável do personagem. Há também um interessante uso do calor na trama e nas imagens como uma das justificativas para deixar a cabeça dos personagens ainda mais perturbada, além de aumentar o nível de sensualidade das cenas. Curiosamente, há também momentos que se passam em meio a uma neblina, como nas sequências que envolvem o assassinato do marido. Eis um filme que valeu demais ter revisto, agora com qualidade HD.

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