sábado, fevereiro 16, 2013

A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty)



Quando o presidente Barack Obama anunciou que as tropas americanas conseguiram capturar e matar Osama Bin Laden, ficou no ar um clima de dúvida, de ceticismo. Principalmente porque eles preferiram não mostrar o corpo de Osama, a mente intelectual por trás dos atentados ocorridos nos Estados Unidos no dia 11 de setembro de 2001. Essa falta de crença também é sentida pelo próprio personagem que dá o tiro em Obama no momento crucial de A HORA MAIS ESCURA (2012). “Será que é ele mesmo?” Os dez anos em busca desse que era o homem mais procurado mundo tornaram-no um mito.

Quanto às tão faladas técnicas de tortura utilizadas pelos membros da CIA para conseguir pistas para chegar aos principais responsáveis pela queda das Torres Gêmeas, elas já foram vistas antes na mídia de ficção, e até com mais intensidade na série 24 HORAS, que nasceu sob o signo da nova era, a era da guerra ao terror. Mas era George Bush que estava no poder. Em sua gestão, poucos nos Estados Unidos questionaram a invasão brutal a um país miserável como o Afeganistão ou a busca de armas de destruição em massa que não existiam no Iraque.

Passados alguns anos, e já na administração de Obama, vemos em certo momento de A HORA MAIS ESCURA um depoimento pela televisão do presidente dizendo que seus agentes não usam técnicas de tortura. A partir de então, não vemos mais cenas de tortura no filme. Seria para mostrar que as referidas técnicas passaram a ser proibidas ou o filme quis ser condescendente com Obama?

A HORA MAIS ESCURA é, naturalmente, mais ambicioso que GUERRA AO TERROR (2008), o filme que deu o Oscar a Kathryn Bigelow. Tanto na duração (quase três horas), quanto no tema, o filme até tem um andamento mais lento. As horas passam mais devagar do que nos demais filmes da diretora. Mas talvez isso seja proposital: serve para dar uma pequena mostra da dura passagem dos anos e da dificuldade dos agentes de capturar e matar o tal homem, para, enfim, vingar o país dos atos danosos.

A personagem mais importante do filme, Maya, vivida por Jessica Chastain, é tão obstinada que chega a não ter uma vida normal. Não tem amigos, não tem namorado, não tem vida social. Desde jovem foi encaminhada para esse trabalho e nunca fez mais nada em sua carreira profissional, além de caçar Osama Bin Laden. Foi isso que ela respondeu ao diretor da CIA vivido por James Gandolfini. Aliás, vale dizer que a escalação de Gandolfini não foi das mais felizes. Tira um pouco o ar de realismo, já que o ator, por melhor que seja, tem ainda uma forte ligação com o seu personagem Tony Soprano, da série FAMÍLIA SOPRANO. Felizmente é um papel curto e quem não o conhece pela série provavelmente não se sentirá incomodado.

A obstinação de Maya é semelhante à do sargento William James (Jeremy Renner), de GUERRA AO TERROR. Com a diferença que não se trata aqui de um vício a sua necessidade de ir até o fim na caçada a Bin Laden. Prova disso é a última cena do filme. A interpretação de Chastain é digna de nota, mesmo num filme frio. Apesar de alguns momentos de tensão, A HORA MAIS ESCURA é cirurgicamente frio e pouco afeito aos clichês de thrillers de espionagem e de guerra. Não tem, por exemplo, a ludicidade de ARGO, de Ben Affleck. Um ato comercialmente arriscado por parte da diretora, mas por isso mesmo seu filme é especial. 

A HORA MAIS ESCURA foi indicado ao Oscar nas categorias de filme, atriz (Jessica Chastain), roteiro original, montagem e edição de som.

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