domingo, agosto 19, 2012

VIAGEM A GRAMADO



Desde os primeiros anos de minha cinefilia que sonhava em ir ao Festival de Gramado, ver todos os filmes, entrar em contato com uma cidade que respira cinema durante nove dias, sentir um pouco do glamour do evento. A ida a Gramado acabou surgindo de maneira bem inusitada. Os poucos meses que tenho participado como colaborador do Blog de Cinema do Diário do Nordeste foram suficientes para deixar a minha marca e Pedro Martins Freire, o editor do blog e principal crítico de cinema do estado do Ceará, me perguntou se eu gostaria de ir a Gramado, caso a oportunidade surgisse. A uma pergunta dessas não se responde nem com um talvez. É claro que eu disse sim, mas como tenho certa familiaridade com a Lei de Murphy, resolvi não contar como certa a minha viagem, só contando da possibilidade para pouquíssimas pessoas.

Isso acabou com que eu perdesse a oportunidade de conhecer pessoalmente, por exemplo, Milton do Prado e perdesse de ver o Cristian Verardi. Os dois estavam em Gramado no fim de semana em que foram exibidos os curtas gaúchos. Mas consegui encontrar Davi de Oliveira Pinheiro, que estava com um curta em exibição, O BEIJO PERFEITO, nessa mesma mostra. Almoçamos e batemos um bom papo, além de vermos a seleção de domingo dos curtas. Inclusive, fiquei impressionado com a qualidade dos curtas gaúchos exibidos naquele domingo. E foi lá que a gente suspeitou que o diretor Sérgio Silva estava mesmo muito doente. Ele veio a falecer na quarta-feira.

Mas eu estava lá a trabalho, e embora não tenha conseguido cumprir o que gostaria, que era enviar para o blog do jornal uma crítica de um dos filmes da noite e um texto-resumo do dia anterior todas as manhãs, pelo menos o texto-resumo foi publicado religiosamente. Uni a linguagem informal dos relatos de viagem que estou acostumado a escrever aqui para o blog com uma linguagem mais jornalística. Foi muito bom, apesar de ter muitas vezes que sacrificar horas de sono para escrever o texto à noite e enviá-lo pela manhã, procurando fazer as correções necessárias. Isso fez parte do processo de correria do trabalho de cobertura.

Foi também muito bom estar junto com vários jornalistas e críticos conhecidos de periódicos importantes na sala de imprensa. Muitos deles só conheci lá mesmo e com quem tive mais afinidade, como Roberto Cunha, do Adoro Cinema, e Ricardo Daehm, do Correio Braziliense. Conheci também Ernesto Barros, do Diário de Pernambuco, Luiz Zanin Oricchio, do Estado de S. Paulo, e tive um pouco mais de proximidade com Celso Sabadim, do Cineclick, e Ivonete Pinto, da Revista Teorema.

Aliás, não tenho do que reclamar da hospitalidade de todo o pessoal da Abraccine, que ainda me permitiu assistir duas de suas reuniões, o que me ajudou a entender um pouco dos bastidores da crítica brasileira. João Nunes (Correio Popular, de Campinas) já foi logo me estendendo a mão assim que eu entrei na sala. E durante um almoço, ele falou de algo que eu achei bem interessante: que para alguém que quer escrever bem sobre cinema, o melhor a fazer é ler grandes romances. Ler Proust, por exemplo. Isso é mais importante do que ler livros sobre teoria de cinema.

As coletivas de imprensa que aconteciam todos os dias pela manhã com os realizadores dos filmes exibidos na noite anterior eram muito enriquecedoras, me ajudavam a compreender melhor o trabalho e as intenções dos cineastas, além de ficar sabendo de detalhes da produção. Poucas polêmicas surgiram. Posso adiantar que não houve nenhum quebra-pau entre críticos e cineastas. Das coletivas que participei o clima foi bem amistoso.

Mas nada como poder participar de uma mesa redonda bem pequena, formada por uma meia dúzia de críticos, a fim de entrevistar Fernando Meirelles e Maria Flor, que estiveram lá por ocasião da exibição de 360, em estreia nacional. Só com essa reunião tão intimista que pude deixar um pouco a minha timidez de lado e fazer várias perguntas a Meirelles e a Maria Flor, que foram muito simpáticos e atenciosos. Diria que até eu, que não sou fã do trabalho de Meirelles, passei a simpatizar com ele, que sempre tem respostas prontas e elegantes na ponta da língua. E em certo momento, a mini-coletiva acabou quase parecendo um bate-papo em mesa de bar.

Porém, o momento mais emocionante aconteceu quando fui me aventurar a entrevistar Sara Silveira, que estava como produtora de um dos melhores filmes exibidos por lá: O QUE SE MOVE, de Caetano Gotardo. Sara foi parceira do Carlão Reichenbach e foi falando dele que me apresentei e ela lembrou de mim. Ela é uma simpatia. Qualquer dia eu transcrevo e publico a entrevista. Pena que tem muitos spoilers do filme de Gotardo. Mas, enfim, o que nos aproximou foi Carlão Reichenbach, o homem mais citado durante o festival. No final da entrevista ela falou que ele devia estar no céu, feliz por termos afinal nos conhecido. Quase fui às lágrimas.

Outra coisa gratificante era sempre poder sentar na área reservada à imprensa, nas primeiras fileiras, onde pude tirar fotografias exclusivas para o blog. Que não são profissionais e tão perfeitas como a dos fotógrafos oficiais do festival, mas também não poderiam ser. Ver os filmes naquele local era muito bom, mesmo os da mostra estrangeira, que se mostraram um tanto chatos. Em compensação, os curtas brasileiros foram uma maravilha. Gostaria de tê-los todos em um DVD para mostrar aos amigos. Principalmente os melhores, como MENINO DO CINCO (o grande vencedor da categoria); O DUPLO; DIÁRIO DO NÃO VER; A MÃO QUE AFAGA; META; e DI MELO, O IMORRÍVEL. Mais adiante reservarei um post para falar mais sobre eles, e um outro para falar dos nove curtas gaúchos que pude assistir. Sendo assim, deixo também para breve os comentários dos longas-metragens nacionais e estrangeiros.

Mas já adianto que não fiquei satisfeito com o kikito de melhor filme para COLEGAS, um filme que passa longe de ser bem realizado e que fica a impressão de ter ganhado por causa do caráter excepcional de seus atores, os meninos com síndrome de Down, que fizeram a festa na noite de encerramento. O SOM AO REDOR, O QUE SE MOVE ou mesmo SUPER NADA seriam escolhas mais compreensíveis. Curiosamente, o júri popular entrou em sintonia com a o júri da crítica, elegendo O SOM AO REDOR, de Kleber Mendonça Filho, como melhor filme.

Falando em Kleber Mendonça Filho, confesso que tremi na hora de entrevistá-lo. Além de ele ser uma pessoa que não fica soltando sorrisos facilmente, eu sou um admirador de seu trabalho há muitos anos, desde a primeira vez que vi VINIL VERDE. Assim, gaguejei na hora de perguntar, mas ele foi gentil em entender a pergunta e já começar a responder. E parece que ele me conhecia, quando fui me apresentar. Ele disse, "ah, de Fortaleza". Será que é por que o meu blog é mais famoso do que eu imaginava? E eu deveria ter me preparado melhor. Só depois pensei em outras perguntas menos óbvias. Quem sabe em outra oportunidade e sem o nervosismo. Em compensação, foi super tranquilo entrevistar os rapazes que dirigiram o sensacional MENINO DO CINCO, até por já tê-los encontrado e batido um rápido bate-papo com eles no transporte que nos levava para os hotéis.

No sábado, dia da premiação, dei um bate-volta lá em Porto Alegre para visitar meus amigos Fernanda e Fabrício. Não os via pessoalmente desde 2007, a última vez em que estive na capital gaúcha. Fomos a um restaurante de churrascos bem chique. E eles ainda fizeram a gentileza de pagar a conta. Fiquei até sem jeito, mas tem certas coisas que a gente não deve negar. Estava com a gente a Ivana, amiga da Fer, que apesar de muito bonita, é avessa a fotos. Uma pena. Mas valeu demais a companhia e o bom papo, ainda que tenha sido durante um curto espaço de tempo. Poder ver os amigos da Cinefelia, lista de discussão que ainda resiste desde 2001, é sempre um prazer. Não posso deixar passar batido sempre que a oportunidade surgir.

Até teria mais coisas a relatar mas é melhor parar por aqui, pois o texto está ficando monstruoso. Quem ainda não leu e quiser conferir os dez textos que escrevi para o Blog de Cinema do Diário do Nordeste sobre cada um dos dias do festival, é só clicar nos links abaixo:

DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4 DIA 5  DIA 5 EXTRA DIA 6 DIA 7 DIA 8 DIA 9

E para quem quiser ver algumas das fotos que tirei da viagem, algumas delas exclusivas para este espaço, é só clicar AQUI.

Agradecimentos especiais a Pedro Martins Freire.