terça-feira, agosto 28, 2012

DEUS DA CARNIFICINA (Carnage)























Chegando com mais de dois meses de atraso em Fortaleza e de maneira muito discreta – o que é uma pena -, o novo trabalho de Roman Polanski, DEUS DA CARNIFICINA (2011), é claramente baseado em uma peça teatral, tanto pelo fato de se passar em um único espaço, um apartamento, quanto pelo uso generoso da palavra, dos diálogos tão bem encenados pelos quatro astros do filme: Kate Winslet, Christoph Waltz, Jodie Foster e John C. Reilly. Quem diz que o filme é teatro filmado é porque não percebe as nuances de Polanski, na utilização dos closes, dos planos mais abertos ou do uso da câmera de baixo para cima.

O mote da trama - e que faz com que os oitenta minutos de filme passem voando –: o filho do casal Nancy e Alan (Winslet e Waltz) atingiu com um bastão o filho do casal Penelope e Michael (Foster e Reilly), quebrando-lhe os dentes violentamente. Os pais dos adolescentes se reúnem, então, para entrar num acordo pacífico sobre o que eles devem fazer para resolver a situação. Se o filho que atingiu deve pedir desculpas, se o atingido também teve sua parcela de culpa etc.

Não deixa de ser curioso o fato de o filme lidar com o tema da culpa, da responsabilidade e de quanto o culpado também pode não ter sido tão culpado assim. É possível fazer uma comparação com a própria situação de Polanski, proibido de entrar nos Estados Unidos depois de ter seduzido uma menor de idade e fugido antes de qualquer julgamento. Dá para imaginar que Polanski pode estar convidando os espectadores a julgar ou relevar a culpa do agressor, achando que ele é apenas uma criança e por isso não se deve levar muito a sério.

Ao mesmo tempo, o personagem de Christoph Waltz, o que mais se destaca no quarteto, como um advogado inescrupuloso que não para de atender o celular, dá a entender, mesmo que de maneira bem humorada, que o seu filho é um maníaco. Coisa que sua mãe discorda totalmente.

DEUS DA CARNIFICINA pode ser visto como uma comédia (tensa) que parece não chegar a lugar nenhum, mas sabemos que os simbolismos, como o representado pelas posições sociais dos quatro personagens e principalmente o mostrado no último quadro, são um convite à reflexão capaz de deixar o espectador com uma pulga atrás da orelha. É um filme adulto e inteligente raro de se encontrar no circuito comercial e que deve ser visto o quanto antes, até por estar passando numa das salas com melhor qualidade de projeção da cidade.