terça-feira, junho 07, 2011

KINATAY



Uma noite dessas assisti uma reportagem num programa jornalístico da Rede Record que mostrava um pouco do que há de exótico nas Filipinas. Fiquei especialmente enojado com os espetinhos de cabeças de galinha e de tripas de galinha, mas nada mais revoltante do que ver as brigas de galo, em que no local das esporas do animal os homens amarram uma lâmina afiada. Assim, as brigas duram minutos ou segundos e o sangue espirra rapidinho, com os animais mortos ou semimortos sendo retirados do ringue ensurdecedor de pessoas fazendo suas apostas. "Inspirado" nessa reportagem, resolvi ver um filme filipino que levou fama de ser bem pesado e sangrento, desde sua exibição numa edição do Festival de Cannes.

KINATAY (2009), de Brillante Mendonza, é muito pior do que brigas de galo com lâminas, mesmo sendo ficção. É que o cineasta dá tal grau de realismo à história de um grupo de homens que decide dar uma "lição" numa prostituta que o filme parece ultrapassar o muro da ficção e adentrar a realidade. O filme começa com o casamento de um jovem aspirante a policial. Apesar de pobres, ele e a também jovem esposa são felizes e veem um futuro promissor pela frente. Um futuro que para o rapaz se tornaria negro depois de uma noite especialmente marcante.

O espectador vê o filme pelos olhos dele; é o seu alter-ego. Afinal, imagina-se que a plateia, por mais voyeur e perversa que seja, não seria capaz dos atos praticados pelos homens que apanham a prostituta na boate para fazerem-na em pedaços. O andamento de KINATAY é lento e espinhoso e os sons captam o barulho da cidade, cheia de barracas nas ruas e de muita gente durante o dia. A tensão é constante. Não chega a ser tão perturbador quanto O ALBERGUE ou MÁRTIRES, por exemplo, mas por ser bem "terceiro mundo", tudo parece mais verdadeiro, mais "mundo cão".

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