quinta-feira, junho 09, 2011

ANNA KARENINA



Não há dúvida de que Greta Garbo foi uma das mais brilhantes estrelas do cinema mundial da década de 1930. Provavelmente foi a maior de todas. Mas também é bom destacar que uma estrela só não necessariamente resulta em grandes filmes. Quando em parceria com ótimos diretores, como George Cukor (A DAMA DAS CAMÉLIAS, 1936) e Ernst Lubitsch (NINOTCHKA, 1939), ela certamente brilhou muito mais. Mas a importância que Garbo ganhou ao longo do tempo fez com que ela se tornasse maior do que os filmes que interpretou.

No caso de ANNA KARENINA (1935), talvez ela só não seja maior do que a obra literária de Leon Tolstói na qual o filme se inspira. Aliás, foi lendo um texto sobre teoria do romance, com citações sobre essa obra que eu resolvi assistir o filme. Nos dias de hoje, com a pouca falta de tempo, infelizmente é assim. Lembrei-me de uma cena de PÂNICO 4, em que a personagem de Neve Campbell recebe a resposta de uma moça mais jovem de que ela não tinha lido o livro; que ia esperar pelo filme. E esse infelizmente é o cenário atual, em que até mesmo aqueles que gostam de ler ficção não têm mais tempo para se dedicar à leitura de um bom romance. Mas voltemos a Greta Garbo e ao filme.

ANNA KARENINA tinha tudo para ser um grande trabalho, carregado de paixão e tragédia e o diretor Clarence Brown até tenta alçar voos maiores, mas talvez por condensar demais o romance ou talvez por falta mesmo de maior competência ou estilo, as cenas mais dramáticas não são tão efetivas. Ainda assim, a segunda parte do filme, depois que Anna já está morando com o amante, tendo abandonado o marido e o filho, traz momentos bem interessantes. A sequência no teatro, por exemplo, é uma delas.

A obra de Tolstói, publicada na segunda metade do século XIX, guarda semelhança com outras do Realismo europeu, como "O Primo Basílio", de Eça de Queirós, e "Madame Bovary", de Gustave Flaubert. Poderíamos, inclusive, incluir o brasileiro "Dom Casmurro", de Machado de Assis, do mesmo período, nesse rol, embora seja mais psicológico. Todos eles têm em comum o tema do adultério, bastante polêmico para a sociedade da época. E vendo ANNA KARENINA, percebe-se o quanto realmente era ousado para uma mulher deixar a própria família para viver com o amante. Tanto que em certo momento do filme, quando o conde Vronsky diz que sacrificaria tudo por ela e pede o mesmo a ela, eu pensei: "puxa, mas pra ele é muito fácil. O cara não é casado nem tem filhos."

O clima do filme oferece ao espectador um pouco da essência do romance, do gênero em geral, que é classificado por teóricos como Lukács e Nietzche, como a continuação da epopeia, mas com a diferença que agora o homem vive num mundo sem Deus. E isso se percebe realmente em praticamente todos os romances, principalmente aqueles que pendem para a tragédia. O trágico é belo. Daí o triste final da protagonista. Que na filmografia de Greta Garbo mais parece um ensaio para o grande filme que viria: A DAMA DAS CAMÉLIAS.

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