quinta-feira, maio 07, 2009

A REGRA DO JOGO (La Règle du Jeu)



Desde meus primeiros anos de cinefilia que sei da fama de A REGRA DO JOGO (1939). A obra de Jean Renoir está quase sempre presente na maioria das listas de melhores filmes de todos os tempos. Mas não sei por que razão resisti por tanto tempo em ver essa obra. O primeiro Renoir que vi foi A MARSELHESA (1938), em companhia do amigo Michel, quando estive em São Paulo. E como achei o filme demasiado patriota, não expondo os contras, apenas os prós da Revolução Francesa, acabei não ficando tão interessado na filmografia do homem. Até que, por ocasião da brincadeira promovida pela Liga dos Blogues Cinematográficos de fazer mais um ranking de décadas, eu me senti na obrigação de ver pelo menos uns dois filmes fundamentais dessa década. Até tentei ver O ANJO AZUL, de Joseph von Sternberg, mas o DVD que eu tinha estava com defeito. Vi e já comentei por aqui DIABO A QUATRO, de Leo McCarey, mas esse não entrará no top 20. Mas com certeza A REGRA DO JOGO terá o seu lugar reservado.

A REGRA DO JOGO é um filme sem protagonistas, cheio de personagens, que até lembra alguns trabalhos de Robert Altman, principalmente ASSASSINATO EM GOSFORD PARK. A maior parte da ação acontece num castelo onde um casal da alta sociedade recebe um grupo de convidados. Entre esses convidados está André Jurieux, um aviador apaixonado por Christine, uma mulher casada cuja principal característica é a indecisão. Ela é esposa de Robert, que por sua vez também tem um caso com outra mulher. Octave, o personagem de Jean Renoir, também é apaixonado por Christine, mas guarda esse amor recolhido e até serve de intermediário entre a mulher e seu amigo aviador. O filme também mostra os casos entre os empregados da casa, que são de igual importância para o desenrolar da trama. O tom do filme é humorístico mas com um pé no drama, na reflexão. Afinal, a guerra já estava explodindo na Europa durante as filmagens. Tanto que a sequência em que os ricos caçam coelhos e pássaros no bosque, num verdadeiro massacre de animais, guarda relação com a guerra.

A cópia que consegui do filme contém alguns extras bem interessantes. O mais importante deles é JEAN RENOIR - FROM LA BELLE EPOQUE TO WORLD WAR II, a primeira parte de cerca de uma hora de duração de um documentário sobre a vida e a carreira de Renoir. Não sei em que DVD foi lançada a segunda parte. Essa primeira mostra a infância do diretor; a influência do pai, o famoso pintor Auguste Renoir; os primeiros trabalhos, caseiros; os primeiros filmes profissionais, passando por títulos importantes como A GRANDE ILUSÃO (1937) e A BESTA HUMANA (1938), até chegar em A REGRA DO JOGO, que marca o fim da primeira fase francesa de Renoir. Depois, o cineasta faria uma série de filmes nos Estados Unidos. O documentário, além de trazer depoimentos do próprio Renoir, também conta com convidados ilustres como Peter Bogdanovich, Wim Wenders e Claude Chabrol.

Também entre os extras, há um dos especiais sobre Renoir para o programa francês CINÉASTES DE NOTRE TEMPS. Destaque para a cena de Renoir, nos anos 60, recriando o seu personagem Octave, de A REGRA DO JOGO nas escadarias do castelo. Noutro extra, a apresentação do filme por Renoir, o cineasta fala da recepção inicial do público ao seu controverso filme. Há também um minidoc comparando a versão de 1939 com a versão de 1959, que foi acrescida de 12 minutos e se tornou a oficial. Há também, como curiosidade, o finalzinho da versão de 1939, com os cortes feitos na época e um epílogo diferente. Nota-se que essa versão anterior não deixava muito claro o mal entendido que acabou por matar um dos personagens do filme. Aproveitando a deixa, a tal cena da morte é bem esquisita. Um tanto inverossímil, mas como quase tudo no filme, principalmente o comportamento dos personagens, me pareceu estranho, mais uma estranheza não vai fazer muita diferença.

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