quarta-feira, maio 13, 2009

FILMEFOBIA



Talvez o problema de FILMEFOBIA (2009) esteja em não conseguir sair do racional. As imagens, no máximo, são curiosas. Não me geraram medo ou repulsa. No entanto, sabe-se de sessões em que pessoas desistem de ver o filme achando se tratar de uma obra de tortura. Pra mim, o polêmico trabalho de Kiko Goifman não é eficiente em apavorar ou perturbar. Tem, sim, uma frieza cirúrgica diante das experiências apresentadas. Experiências que, segundo um dos voluntários, é sádica e cruel. Mas que pode ser vista com interesse à luz da antropologia. O próprio diretor, Kiko Goifman, é antropólogo e, por mais que não se possa gostar do seu filme, o interesse dele pelo assunto parece genuíno.

FILMEFOBIA consiste num falso documentário sobre experiências que um diretor de cinema – interpretado por Jean-Claude Bernadet – faz com pessoas que tem fobias. Segundo ele, a única imagem verdadeira é a de um fóbico diante de sua fobia. Assim, ele convida voluntários para participar do filme-experiência, que aceitam encarar os seus próprios medos. Para deixar tudo mais aterrorizante para o fóbico, a equipe os coloca amarrados em engrenagens estranhas, de modo a criar um ambiente incômodo. Às vezes, o recurso utilizado para aterrorizar as pessoas é bem simples, como a mulher amarrada na cadeira, enquanto um sujeito põe uma cobra em sua direção. Ela fica histérica, totalmente descontrolada. Alguns voluntários ficam tensos e imóveis diante de seus medos, um deles chega a desmaiar durante o processo. Alguns dos medos mostrados no filme apresentam desde casos mais comuns como medo de agulhas, de sangue e de altura até medos bem estranhos, como medo de anões e deficientes físicos ou de ralos de banheiro.

Uma das questões levantadas é o tênue limite entre o que é real e o que é representado. Como muito bem já demonstrou Eduardo Coutinho em seus trabalhos, diante da câmera, um entrevistado se transforma num ator. O diferencial de FILMEFOBIA é flagrar um momento em que essas pessoas, diante de um pavor sem igual, ignorariam a câmera, gerando emoções verdadeiras.

Interessante a observação de José Mojica Marins, que aparece no filme vestido de Zé do Caixão. Ele comenta uma experiência onde um rapaz que tem fobia de ratos é amarrado nu a um colchão onde se coloca dezenas de ratos. Mojica nota que o pênis do rapaz fica semiereto. Segundo ele, numa situação de completo pavor, isso não teria acontecido. Então, teria havido ali uma mistura de medo com a satisfação de um fetiche? O fato de estar nu e amarrado (indefeso) diante das câmeras teria dado ao rapaz um pouco de tesão? Seria ele um masoquista? Seriam vários dos voluntários masoquistas? Ou seriam os espectadores e a equipe do filme sádicos? Essas são outras questões que o filme levanta.

Quanto a Jean-Claude Bernadet, seu personagem é bastante curioso. Ele passa a maior parte do filme no que parece uma cadeira de rodas bem equipada, o que passa inicialmente a impressão de que ele estaria paralítico. No entanto, mais tarde o vemos andando pela cozinha de sua residência. O que mais me deixou curioso foi o fato de seu personagem ter sérios problemas de visão, de estar ficando cego e do quanto a completa escuridão o assusta. Fiquei curioso para saber se isso era um problema só do personagem ou se era também de Bernadet. Na internet, pude ver que o problema de visão de Bernadet é mesmo real e que ele está ficando cego em consequência da AIDS. Ah, e o sujeito que desmaia no filme, com medo de sangue, é o próprio Goifman!

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