quarta-feira, junho 04, 2008

LADY CHATTERLEY



Presente em várias listas de melhores filmes exibidos no ano passado, LADY CHATTERLEY (2006) era o tipo de filme que eu fazia questão de ver no cinema. Até por ser descrito como um filme extremamente sensorial. E nada como ver na telona, para captar melhor essas sensações, não apenas o erotismo, mas também os detalhes dos sons e das imagens produzidos pela natureza, como o farfalhar das folhas, o vento, a chuva. E isso a diretora Pascale Ferran capta muito bem nesse seu marcante e ambicioso trabalho. Trata-se de uma versão de quase três horas de duração do romance de D.W.Lawrence, que tanto escândalo causou na época de seu lançamento, sendo proibido por algumas décadas na Inglaterra. Talvez o que mais incomodou a sociedade da época - e que talvez ainda incomode nos dias de hoje - seja a entrega sem a mínima culpa de uma mulher casada com um homem impotente e paralítico por causa da guerra que sente uma forte atração física por outro homem de uma classe social considerada inferior. Essa atração vai aos poucos se transformando em amor, em afeto. O guarda-caças, objeto de desejo da mulher, é um homem rude e com um corpo de lutador de luta livre, que vive sozinho em sua casa de madeira, cuidando de pássaros e cortando lenha.

A versão de Ken Russel, de 1993, com Joely Richardson no papel principal, já havia me deixado bastante entusiasmado - digamos assim -, especialmente na famosa cena da chuva, que no filme de Russell me pareceu mais erótica e fetichista. Na versão de Ferran, a cena da chuva é mais naturalista, representando mais um grito de liberdade às convenções sociais e de alegria por ter chegado a um momento tão especial da vida do casal de amantes. Por isso, quem for assistir LADY CHATTERLEY pelo erotismo pode se decepcionar um pouco, até porque a primeira hora de duração do filme trata exclusivamente de mostrar a rotina tediosa de Constance (Marina Hands), que para não ficar deprimida tendo que estar sempre cuidando do marido inválido, trancada dentro de casa, é encorajada pela simpática empregada da casa a fazer uns passeios pela floresta para entrar em contato com a natureza, um santo remédio para os males da alma. A primeira hora de duração até parece um daqueles filmes mais idílicos de Eric Rohmer. E é nesses passeios revigorantes que ela vai parar na casa de Parkin (Jean-Louis Coulloc'h), o guarda-caças. Sua primeira visão de Parkin foi dele sem camisa, lavando-se do lado de fora da casa. A visão do corpo do homem provoca em Constance um sentimento forte de tesão, que faz com que ela retorne outras vezes até aquele lugar, até chegar o dia em que o sexo seria inevitável.

Mas o sexo seria inicialmente envergonhado, sem nudez. Aos poucos é que eles vão se despindo de suas vergonhas. E uma das cenas mais sexualmente intensas do filme é o momento em que ela sente a necessidade de tocar o corpo dele, o que provoca nele uma sensação até então desconhecida. E aos poucos o grau de intimidade entre os dois vai crescendo, e essa gradação justifica a duração do filme. Interessante saber que Pascale Ferran, antes de começar a filmar, ensaiou intensivamente durante seis semanas com os atores, de modo que eles ficassem mais à vontade nas cenas mais explícitas. A técnica funcionou, embora eu não tenha simpatizado muito com o ator. Mas como o filme é narrado do ponto de vista de Constance e os poucos closes do filme são de seu rosto em êxtase ou em estado de desejo, isso sobrepõe qualquer pequena antipatia que possa eventualmente ocorrer. Até porque o personagem de Coulloc'h (que sobrenome mais esquisito) é bem convincente como homem de pouca instrução.

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