quarta-feira, outubro 18, 2006

PARANOIA AGENT (Mousou Dairinin)



Só fui saber que Satoshi Kon havia realizado essa série quando li um artigo sobre ele por ocasião da exibição no Festival de Veneza de PAPRIKA (2006), seu mais recente longa-metragem. Poucas semanas depois, como num passe de mágica, lá estava eu de posse dos 13 episódios de PARANOIA AGENT (2004), uma série muito louca sobre pessoas desesperadas e angustiadas que encontram a salvação nas mãos de um agressor que aparece na figura de um garoto com um bastão de beisebol.

A série já começa bizarra com a abertura, que mostra os personagens da série dando gargalhadas como se tivessem tomado algum tipo de droga, alcançado a iluminação ou descoberto algo muito importante a respeito da vida. A série vai apresentando os personagens aos poucos. A primeira a ser destaque é Tsukiko, uma garota tímida que criou um bonequinho que virou uma verdadeira febre no Japão, o Maromi, um cachorrinho cor-de-rosa e com os olhos bem grandes. O problema é que a companhia em que ela trabalha está pressionando a garota para que ela crie um outro personagem o mais rápido possível, mas Tsukiko está carente de idéias. Angustiada e perturbada, ela é atacada por um sujeito e acorda num hospital. Ela descreve para a polícia que o tal agressor é um menino de boné, sorriso brilhante no rosto, patins e um taco de beisebol.

Os episódios seguintes mostram outras pessoas que têm suas vidas mudadas graças ao "Shounen Bat", apelido que o agressor recebe pela mídia. Temos o garotinho que é confundido com o tal sujeito por causa de seus patins, boné e sorriso brilhante; temos a garota que tem vida dupla, sendo que à noite ela é prostituta; temos o policial que faz negócios com a Yakuza e precisa ele mesmo cometer assaltos para pagar suas dívidas.

Depois de quatro episódios excepcionais, a série começa a cair um pouco a partir do quinto, quando a trama vai ficando cada vez mais intrincada e os episódios vão trazendo situações cada vez mais bizarras. Alguns episódios não têm uma ligação direta com a trama principal, mas apenas com a lenda urbana do "Shounen Bat". É o caso do episódio "Happy Family Planning", que mostra um grupo de três amigos que se conhecem pela internet e decidem fazer um suicídio coletivo para pôr fim às suas vidas miseráveis. Esse é um dos episódios mais interessante e que até pode ser visto independente da série, ainda que eu não recomende. Outro episódio de destaque é o que lida com a força do boato, mostrando um grupo de senhoras que conta estórias absurdas sobre o "Shounen Bat".

A série perde a força quando fecha com os três últimos episódios a trama principal, com um dos policiais encarregados do caso se transformando numa espécie de super-herói e o seu parceiro indo parar num mundo bidimensional. Muita loucura. Muitas perguntas ficam no ar e alguns dos personagens mais interessantes, como Harumi Chono - a menina de vida dupla -, são deixados de lado. No fim das contas, eu fiquei sem saber qual foi a intenção de Satoshi Kon ao criar essa série. Ainda assim, não é sempre que se pode ver uma série animada tão bem cuidada e que ainda incita à reflexão.

Agradecimentos a Marcelo Reis, que muito gentilmente me enviou de surpresa uma cópia dessa brilhante série. Valeu, meu chapa!

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