domingo, janeiro 09, 2005

HITCHCOCK E JOAN FONTAINE



Para esse fim de semana, aluguei cinco filmes de Hitchcock. Infelizmente, dos cinco, dois DVDs estavam com defeito. Foram os de CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940) e INTERLÚDIO (1946). A locadora não dispunha de uma fita de UM CASAL DO BARULHO (1941), que a Warner do Brasil não se dispôs a lançar dentro do pacote de filmes de Hitch, lançados recentemente. Então, enquanto não consigo cópias desses filmes - vi que CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO saiu em DVD de banca -, vamos de dois filmes que Hitchcock fez com Joan Fontaine num curto intervalo de tempo.

Joan Fontaine é a mais frágil das heroínas de Hitchcock. Bem diferente de Ingrid Bergman ou Grace Kelly. Os dois filmes abaixo têm muito em comum. Ambos são contados pelo ponto de vista da personagem de Fontaine; ambos mostram uma mulher que se casa rapidamente com um homem estranho e tem que enfrentar desafios imprevisíveis; ambos se passam na Inglaterra, apesar de filmados nos EUA. Logo, os cenários são bem artificiais nas cenas externas, filmadas em estúdio.

REBECCA - A MULHER INESQUECÍVEL (Rebecca)

REBECCA (1940) foi o primeiro filme de Hitchcock nos EUA. O primeiro de uma série de filmes em parceria com o produtor David O. Selznick. Na verdade, a parceira se transformou na mais famosa das brigas entre produtor e diretor. Hitchcock odiava as intromissões de Selznick. No livro Afinal, Quem Faz os Filmes, quando Bogdanovich pergunta a Hitch sobre essa relação com Selznick, ele fala que antes de se filmar uma cena, o produtor tinha de ser chamado para vê-la. Difícil não ficar aborrecido. Uma coisa que eu reparei nesses filmes que peguei (todos produzidos por Selznick) é que eles começam sempre com o nome do produtor bem destacado. Na época, os filmes eram mais dos produtores do que dos diretores. Hitchcock soube se impor com o tempo até conseguir se livrar desse fardo e entrar na melhor fase de sua carreira, a partir dos anos 50. Interessante que REBECCA ganhou o Oscar de melhor filme, mas quem recebeu o de melhor diretor no mesmo ano foi John Ford, pelo filme AS VINHAS DA IRA, que eu considero um pouco melhor que REBECCA. Hitchcock nunca recebeu um Oscar da Academia. De qualquer maneira, ele não precisava mesmo. Hitch está muito acima disso.

REBECCA ainda é muito vigoroso. Hitchcock não gostava muito dele, por considerar um filme totalmente desprovido de humor. Ele nem o considerava um autêntico Hitchcock. Mas quando Truffaut comentou ser REBECCA um filme essencial para que o diretor pudesse enriquecer os filmes seguintes com material psicológico, Hitch concordou. Não fiz um levantamento da duração dos filmes do diretor, mas REBECCA me parece ser o mais longo: são 132 minutos muito bem aproveitados, com diálogos excelentes e um ritmo que não cansa o espectador. Por exemplo, numa das cenas finais, em que aparece o barco com o cadáver de Rebecca e o personagem de Laurence Olivier passa a contar toda a verdade para Joan Fontaine, nessa cena, mesmo sem se utilizar de seqüências em flashback, utilizando apenas a fala, o filme começa a atingir o seu ápice. E nesse momento já são quase duas horas de filme. É no final que o filme mais se assemelha a um típico Hitchcock, principalmente por causa do tema da culpa do personagem de Laurence Olivier.

Visto em VHS da Continental.

SUSPEITA (Suspicion)

A primeira coisa que salta aos olhos ao pegar esse filme em DVD da Warner, é a qualidade da imagem, muito melhor que as da Continental. E o DVD ainda vem com um pequeno documentário de cerca de 20 minutos sobre o filme, dirigido pelo especialista Laurent Bouzereau.

Cary Grant está ótimo nessa sua primeira parceria com Hitchcock - ele ainda faria com Hitch INTERLÚDIO (1946), LADRÃO DE CASACA (1955) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959). Em SUSPEITA (1941), ele é um sujeito que conquista a ingênua Joan Fontaine. (Se bem que Joan está bem menos ingênua aqui do que em REBECCA.) Os dois se casam, mas só depois ela descobre que ele é um mentiroso e viciado em jogo. Cada vez que ela descobre algo de errado do marido, ela passa a confiar menos nele. O ápice da paranóia acontece quando ela começa a acreditar que Grant está planejando matá-la para ficar com o dinheiro do seguro. Como o filme é todo narrado pelo ponto de vista de Joan, é fácil entender e acreditar na culpa de Grant. Ele, ora aparece simpático e alegre, ora aparece sinistro, sombrio. Um dos grandes papéis de Grant. Nesse sentido, o filme lembra À SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1948), que também trata de uma suspeita. A cena mais clássica do filme é a do copo de leite. O detalhe dessa cena é que Hitch colocou uma lâmpada dentro do leite, para chamar a atenção do espectador apenas para o copo.

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