segunda-feira, abril 07, 2003

CHAPLIN E MONSIEUR VERDOUX



Recentemente, lendo no blog da Fernanda, vi que ela colocou o Chaplin entre os diretores/atores que mais odeia. Coincidentemente acabei de assistir MONSIEUR VERDOUX, ótimo filme de Chaplin a partir de idéia de Orson Welles, e resolvi fazer uma espécie de homenagem a ele, como uma resposta a ela. Mas antes de escrever sobre ele, vou falar um pouco sobre os filmes dele que já tinha visto. O meu preferido, talvez por provocar mais emoção, mais choro, é LUZES DA RIBALTA(1952), filme auto-biográfico mostrando a decadência de um comediante. É um filme triste que fala sobre a velhice, a decadência, o suicídio, o sentido da vida. É um filme que eu gostaria muito que lançassem em DVD pra eu poder rever. Depois desse vem LUZES DA CIDADE(1931), o melhor filme da fase muda de Chaplin. A cena clássica da cega que se apaixona pelo vagabundo Carlitos é fantástica. E aquilo é cinema puro. Chaplin evitou a todo custo se utilizar de explicações escritas. Uma obra-prima. O mais engraçado, no entanto, é O CIRCO (1928). Nele, o humor visual está em seu auge. E toda a herança de palhaços de circo encontra na telona do cinema uma verdadeira declaração de amor. (Aqui no Brasil algo muito bonito foi feito em OS SALTIMBANCOS TRAPALHÕES.) Outro da fase muda, que traz tanto cenas engraçadas quanto tristes e melodramáticas é O GAROTO (1921), filme curtinho e que dá um gosto de "quero mais" que só vendo. Outro clássico do cinema mudo é EM BUSCA DO OURO (1925), em que aparece a célebre cena do jantar: Carlitos se esforçando para comer uma bota. Chaplin era sempre preocupado com os problemas sociais e acreditava piamente na humanidade. Era um humanista, criticava os governos e sociedades que tratavam as pessoas como máquinas ou, pior ainda, apenas como uma peça na grande máquina. Um dos melhores filmes sobre o tema é TEMPOS MODERNOS (1936), que também marca o fim da fase muda e a despedida do personagem Carlitos. Um filme memorável da fase falada é UM REI EM NOVA YORK (1957), destaque para a cena em que Chaplin, após uma cirurgia plástica, não se aguenta de rir. Nunca vi completo O GRANDE DITADOR (1940), mas pretendo ver em breve.

Mas como o meu estoque de filmes de Chaplin vistos acaba por aqui, comento um pouco o filme que está mais fresco em minha memória: MONSIEUR VERDOUX (1947). Nesse filme, o humor de Chaplin está afiadíssimo. Há uma mistura de humor negro e uma afeição estranha pelo personagem central. Chaplin é Verdoux, um verdadeiro Barba-Azul. Ele casava com as mulheres, as matava e ficava com a grana. Ele encarava isso como um negócio, já que tinha perdido tudo quando trabalhava de bancário. O que torna o filme bastante interessante é o fato de Chaplin estar mostrando um assassino como alguém digno de nossa compreensão e até estima. E o pior é que ele consegue. Uma das cenas de maior destaque é uma em que Chaplin quer testar um veneno que mata sem deixar vestígios no cadáver; escolhe uma mulher que está na rua, sem dinheiro, sem teto e sem comida para ser a cobaia do experimento. O humor desastrado e os trejeitos um pouco efeminados de Chaplin continuam presentes ainda nesse filme da fase madura. Chovendo no molhado: MONSIEUR VERDOUX é mais uma obra-prima de um dos maiores cineastas do mundo.

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