quarta-feira, junho 09, 2021
INVOCAÇÃO DO MAL 3 - A ORDEM DO DEMÔNIO (The Conjuring - The Devil Made Me Do It)
Impressionante a falta que um grande diretor faz quando ele entrega a outro menos talentoso aquilo que talvez seja o seu maior projeto. A elegância e a condução de James Wan nos dois primeiros filmes da franquia INVOCAÇÃO DO MAL são substituídas aqui pela falta de habilidade de Michael Chaves, o mesmo do fraco A MALDIÇÃO DA CHORONA (2019), título que, mesmo não sendo tão ruim quanto A FREIRA, outro subproduto dos filmes estrelados por Ed e Lorraine, é mais esquecível e por isso mesmo mais digno de nosso desprezo. Como tive a oportunidade de rever os dois filmes poucos dias antes, essa diferença se torna ainda mais gritante. (Ver breves textos sobre as revisões abaixo.)
INVOCAÇÃO DO MAL 3 - A ORDEM DO DEMÔNIO (2021) até que começa bem. O prólogo faz uma homenagem explícita a O EXORCISTA (repararam na descida do padre da viatura policial e a tomada da fachada da casa?) e também é o momento de mais intensidade do filme, até pela boa participação da criança possuída pela entidade maligna. Depois, o caso vira mais uma curiosidade. Ao que parece foi a primeira vez na história dos tribunais nos EUA em que um homem afirmou ter matado outro por ter sido possuído por uma força demoníaca.
É pena que o filme vá se tornando cada vez mais problemático à medida que se aproxima da conclusão. E os clichês, tão brilhantemente usados por Wan, aqui não têm a menor graça. Ao contrário, só aumentam a sensação de que estamos vendo um exemplar ordinário do gênero.
O que há de bom é a presença sempre bem-vinda de Patrick Wilson e Vera Farmiga como Ed e Lorraine Warren, o casal célebre por investigar situações sobrenaturais. Aqui, o fato de Ed estar mais fragilizado por causa de um problema cardíaco acaba gerando alguns momentos interessantes. Percebe-se que havia o esqueleto de uma ideia boa por trás, mas que o risco que Wan conseguiu superar nos dois primeiros filmes por causa de seu talento vira algo de sentir vergonha, muito por causa do espírito carola neste terceiro. Hoje em dia fazer terror cristão é uma tarefa bem mais difícil do que fazer terror pagão.
Enquanto isso, James Wan tem um novo filme de horror que talvez também vire uma franquia, MALIGNANT, já finalizado e previsto para estrear ainda neste 2021, ano tão pesado, especialmente para nós brasileiros, que ir ao cinema ver um filme sobre possessão demoníaca é algo feito para relaxar do atual momento político, social e sanitário.
+ DOIS FILMES REVISTOS
INVOCAÇÃO DO MAL (The Conjuring)
Com a proximidade da estreia do terceiro filme da franquia, resolvi rever os dois primeiros. E, para a minha surpresa, este primeiro filme (2013) segue sendo muito poderoso. Fiquei arrepiado em muitas sequências. James Wan tem um domínio da gramática do horror clássico que é impressionante. E não deixa de ser também arriscado fazer um filme cristão à moda antiga, com cenas de exorcismo intensas que poderiam muito bem estragar o filme, e ele faz isso com muita seriedade e eficiência. E por mais que eu não tenha ficado totalmente satisfeito com a conclusão (rápida demais, talvez), todo o desenvolvimento até chegar lá é aterrorizante. Como o terror é um gênero que lida com a vida normal como uma dádiva, entrar em contato com uma vida atormentada por forças diabólicas só faz com que essa vida normal seja ainda mais valorizada. No mais, ótimos desempenhos de Patrick Wilson e Vera Farmiga e também dos atores que vivem a família que mora na casa assombrada. Sem falar em todo o cuidado com direção de arte, movimentos de câmera, som, música etc. Uma joia clássica cristã feita em tempos de horror pagão.
INVOCAÇÃO DO MAL 2 (The Conjuring 2)
Que bom poder rever este segundo filme da franquia e ver que ele se equipara ao primeiro em qualidade. Ou quase. Por mais que o primeiro talvez cause mais arrepios, este lida com a mitologia da Igreja Católica e da demonologia de maneira ainda mais ousada. Na época que o vi no cinema, talvez tivesse feito comparação com a minissérie britânica THE ENFIELD HAUNTING, que é de fato excelente e tem mais tempo de explorar o drama da família Hodgson. O filme, no entanto, visto à parte e certamente menos fiel aos fatos, tem uma força absurda do ponto de vista dramatúrgico. Principalmente ao dominar o tempo certo em seu clímax - o clímax muito rápido é um problema do primeiro. E há aqui a figura assustadora da freira, que é um elemento sacro levado para o ambiente demoníaco. Outro acerto é o carinho que se demonstra pela garotinha Janet (Madison Wolfe) em algumas cenas bem ternas. E há aquela ótima cena do Patrick Wilson cantando Elvis, que já virou um clássico.
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